Dona Amélia no Centro Velho (por Catito)

Já falei aqui que sou urbano e paulistano da Bela Vista, vivo no Ipiranga, mas conheci muito o atual Centro Velho da Cidade, que, quando garotinho, era simplesmente o Centro da Cidade, único e lindo.
Íamos eu e minha avó Amélia quase todos os dias ao Centro pois morávamos muito perto. Íamos tomar um chá da tarde nas leiterias da Rua São Bento e suas travessas, algo relamente inimaginável nos dias de hoje: senhoras elegantes, mulheres muito bem vestidas e homens alinhados, que já não usavam tanto o chápeu de uns anos antes. Chás, cafés e leites em bules, maravilhosos petit-fours, broas e pães deliciosos. Depois do chá, minha avó Amélia, invariavelmente, passava no Argenzio, um empório da época que ficava ao lado da Catedral da Sé, ou na Casa Godinho, uma mercearia na Rua Líbero Badaró, para as compras, produtos dos mais variados e finos tipos que só se encontravam lá ou no Mercadão, mas aí era mais longe.
Quando estávamos no Centro da Cidade, lá pela hora do almoço e não íamos para casa, nossa parada poderia ser ou a casa na Rua São Bento, quase esquina com a Praça do Patriarca, que vendia lanches de calabreza de Bragança Paulista, uma delícia!, ou a Padaria Santa Tereza, na Praça Jõao Mendes, que tinha a melhor coxinha creme com osso de São Paulo e onde Dona Amélia podia tomar, também, uma canja muito famosa na época. Com 6 ou 7 anos ela me levava para assistir os desenhos do Tom & Jerry no Cine Metro, na Av. São João, e era uma farra: só crianças num cinema, imaginem a cena e a gritaria. Às vezes almoçavámos no restaurante Salada Paulista na Av. Ipiranga, que ficava ao lado do cine Ipiranga. Almoçávamos em pé pois não haviam cadeiras e comia-se no balcão. Nesta época podia-se andar tranqüilamente pelo Centro, sem receio de nada. Era muito bonito o Centro da Cidade.
Adbox