Pierrot Lunaire

E no fim de semana fomos ao SESC Pinheiros, para vermos e ouvirmos uma ópera que não é bem uma ópera. Luar Trovado, adaptação de Pierrot Lunaire (1912), obra de canto falado do austríaco Arnold Schoënberg (1874-1951). Sim, canto falado, trovado, gritado, lunático. Em meio a uma encenação pesada, eu diria, foi a primeira vez que vi o funk, com seu linguajar nada sutil, extremamente contextualizado, depois do choque, claro. Depois do funk entrar rompendo a sonoridade que havia sido criada, durante muitos minutos, pelo canto lírico, quebrando os paradgmas musicais. E depois de observar a reação da platéia assim que a fankeira Deize Tigrona deixou o palco pela primeira vez. Murmurinhos, gente que não se movia, risinhos desconcertados. É que não é comum ouvir uma mulher falando por aí que a vagina é dela e que ela dá pra quem quiser (a Geni dá pra qualquer um, e ... joga pedra na Geni!), dentre outras coisas, muitas outras coisas. A segunda aparição da moçoila foi mais tranqüila, e as duas crianças que estavam à minha frente, por volta de 8 anos, riam (como crianças, óbvio), a cada palavrão. É, a gente vai se acostumando e, no fim, chega às gargalhadas, ou aos aplausos de 15 minutos, 5 só de paralisia. Mas o funk estava bem contextualizado, o que não o deixou tão grotesco, mas ruptural. É que apesar do contexto tradicionalista, a obra, um ciclo melodramático para voz e sete instrumentos, dá uma sensação de ruptura total. E, como dizem, o aspecto de delírio não tornou o ato decadente, mas de teor quase apocalíptico. Uma ruptura com a ética, além da estética. É que Pierrot Lunaire conta os delirios de um Pierrot que, da lua, vê a terra se autodestruindo. Atemporal, eu diria.

Ficha Técnica:
Os lunáticos em questão são Elke Maravilha, a funkeira Deize Tigrona, as cantoras líricas Adélia Issa e Lucila Tragtenberg, além dos músicos da orquestra e atores, todos sob o comando de Gerald Thomas e do diretor musical Lívio Tragtenberg.
Adbox