Cidade de Itapetininga

Estação de Itapetininga, início do séc 20. "Chegada do bispo".


Não conhecia a Cidade de Itapetininga, mas meu amigo Rui, que é de lá, sempre alardeava as maravilhas da cidade, ao ponto de dizer que no Rio Itapetinga havia Salmão que vinha do Chile se refrescar por lá (exagerado esse Rui). O Restaurante Saci e Sacizinho, o Nota 10, o Bar Barão e, principalmente, o Bar Fecha Nunca, o primeiro bar 24 horas do interior paulista. Antigamente nem porta tinha, não fechava nunca já que era na parada dos ônibus, na Rodoviária da cidade.

Agora (infelizmente) o progresso chegou por lá, tem lei do silêncio, Psiu, essas coisas todas de cidade grande. Contam os antigos que um dos sócios morreu e o outro não pode ir ao velório nem ao enterro pois não podiam fechar um bar sem portas. Hoje, o neto do antigo proprietário é quem toca o négocio. Estivemos uma noite lá e está todo remodelado, moderno, com a juventude tomando sua cervejinha, comendo seus petiscos e lanches até pela 1:00 da manhã, quando, agora, ele fecha, uma pena.

Conta nosso amigo Rui, que quando sua mãe estava grávida dele, numa madrugada sentiu um desejo imenso de tomar guaraná. Seu pai ficou perdido sem saber o que fazer, pois era muito tarde, e se lembrou do Fecha Nunca. Dona Ilda pode, então, tomar seu guaraná, pelo tanto que o Rui gosta de uma cerveja, acho que devia se uma Brahma.

Uns anos atrás, nosso amigo Rui nos convidou para passar o Ano Novo lá, com a família dele. Olha, uma maravilha. Família grande, filhos, genros e netos vindos de vários lugares. Gente boa. A Matriarca, dona Ilda, uma mulher de seus quase 80 anos na época, uma graça de pessoa, tranqüila, serena, logo nos deixou completamente à vontade, como todos, alías. Chegamos à noitinha, com nossos amigos Yo e Jane. Na casa, aquela alegria. As crianças da família aguardando todos e, mais do que isso, a hora em que todos brindaríamos o Novo Ano.

Como em todas as casas, a gente já bebericando alguma coisa, comendo alguns petiscos e todos por alí, eis que chega a hora do brinde de Ano Novo, a troca de abraços, os desejos de um ano maravilhoso com paz, saúde, alegria, muito trabalho e aquelas coisas todas vindas de pessoas que a gente mal conhecia, mas nos fazendo muito bem naquele momento, pois era sincero e verdadeiro.

De repente a família começa a trocar presentes e a gente começou a ouvir: "Feliz Natal!", "Feliz Natal!". Olha, eu confesso, fiquei achando que eu estava no lugar errado, no dia errado e na casa errada. Achei tão estranho, mas nos explicaram: é que como muitos deles vivem em lugares longe dali e só se encontram no Ano Novo, é nesta data que trocam presentes e votos de Feliz Natal também. Ufa... que susto! Achei que tinha bebido demais.


Dona Ilda preocupada com a comida, as filhas fazendo canudinhos de massa (uma delícia), enfim, todos envolvidos com a comida e a bebida do evento. Dali a pouco passamos pela porta da cozinha e eis dona Ilda, quase 3:00 hrs da manhã, encostada na pia, cigarrinho no canto da boca, limpando as unhas de um porco para o dia seguinte. Que vigor! Que saúde! Que prazer ter conhecido Itapetininga desse jeito tão especial.

Catito.
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