A Virada III

"Agora sou eu quem sai na cola da Editora-Chefe Fernanda e do Joca!. Sei que não consigo ser tão brilhante quanto eles na descrição da Virada Cultural 2008, mas conto com satisfação minha breve experiência.”

Há aqueles que fazem toda a questão e, se sentem na obrigação, de remar contra a maré, dizer coisas que só eles estão vendo e colocando em momento inoportuno ou, fora do contexto ou, desnecesariamente ou, em certos momentos até se tornam chatos, são os “aparecidos” – direito deles, livre expressão e viva a liberdade. Um escreve na Folha que andar pelo centro era desbravar um mar de urina, que os cabeludos estavam mais interessados em dar “gorfadas” nas garrafas de bebidas e depois joga-las pelas ruas, que muitos outros acabaram com o pouco de verde que existia nos jardins e praças. Houve falhas quanto ao dimensionamento dos banheiros químicos (havia filas), alguns atrasos e cancelamentos sem explicação como o da apresentação do Globo da Morte na Praça da República depois de quase uma hora de espera junto com os “motoqueiros” engaiolados na bola. Até a querida amiga Mônica, depois de tres anos na civilizada Suissa, aceitou na boa e sabe que ainda levaremos um tempo ainda para aprender certas atitudes. Como está sempre dizendo o Giba, o da Viola, com a sabedoria dos caipiras: - “Ai também já é procurar pelo em ovo”. O meu amigo Anjo, artista plástico dos domingos da Praça da República, não gostou do palco dos “cabeludos” que, diz ele, espantou a sua tradicional freguesia e sugeriu que deveriam ter colocado ali musicos de chorinho. Ou ele poderia, neste dia, direcionar suas pinturas para o universo rockiano?.

Avenida Ipiranga com Avenida Rio Branco no domingo de Virada

Vamos ao que importa e ao que valeu, com a sabedoria do Rui, o Ícone: - “Tirando as bijouterias foi tudo ótimo” e a festa foi uma oportunidade única das pessoas se conhecerem mais, de se comunicarem mais, de se divertirem mais, de descobrirem o centrão, de conhecerem e participarem mais de outras manifestações artisticas e culturais, de paulistanas natas irem pela primeira vez ao Pátio do Colégio – que a Fernanda não leia isto pois terei de assinar uma carta de advertência. Que oportunidade única para tomar uma cerveja, ou refrigerante, e comer o tira gosto dos bares vizinhos do “perigoso entorno noturno” do Mercadão e do Parque D. Pedro que ficaram abertos toda a madrugada; de passar pela Quinze de Novembro – durante o dia a rua dos sisudos engravatados do mercado financeiro e suas elegantes secretárias - e encontrar uma rave ao som de todos os eletronicos possíveis comandadas por vários DJs e que continuava pelas ruas da Quitanda e Quintino Bocaiuva até o academico Largo São Francisco dos futuros doutores da lei; ouvir música também eletronica em fones de ouvido no Largo São Bento, ao lado da Igreja e do Mosteiro, em completo silêncio para respeitar o sagrado sono dos monge beneditinos.
Moradores das regiões mais afastadas que frequentam o centro à trabalho trouxeram os filhos para conhecer; os baladeiros da Vila Olimpia e adjacências no desbravamento de uma nova praia; a fã da Gal que veio do Rio Grande Sul apenas para ver a apresentação e muitos outros de várias partes do Brasil aproveitando a oportunidade para ver artistas e grupos de longa estrada e que se apresentam em ocasiões raras como esta; turistas de outros países maravilhados com o clima de festa. As Associações de Hotéis e Restaurantes estimaram a presença em São Paulo de cento e cincoenta mil visitantes.

Apresentação primeira e única como a dos malucos franceses pintados de azul, rolando enormes tambores azuís, soltando fogos coloridos ao som de um trio elétrico frances em completa interação com o público. Diretores de teatro, atores e atrizes, alguns globais, não perderam a oportunidade. No final do percurso os enormes tambores eram jogados sobre um automóvel velho adesivado com o nome Police. Dizem que a nossa proibiu a segunda saida que seria às tres e meia da manhã.


A Fernanda lembrou dos muitos, mas muitos amigos que a gente encontrou, amigos músicos, cantores, atores, escritores, amigos de copo e de vida. O primeiro encontro, a primeira alegria e surpresa foi com a Kátya Teixeira assistindo a Cesária Évora. Encontro de estrelas é encontro raro e o Joca está ai para confirmar.
Como a organização do evento distribuiu um mapa, dos palcos e dos eventos, grupos se reuniam discutindo as saidas como se estivessem em uma caça ao tesouro.
Curiosas dúvidas:
- “O “meo”, sabe onde é o Viaduto do Chá?
- “ Você está exatamente sobre ele".
Ainda no Viaduto do Chá:
“O Vale do Anhangabau está muito longe”.
- “Você está em cima dele.”
No domingo na Avenida Rio Branco duas simpáticas senhorinhas vestidas par
a uma festa apontando para o palco:
- “É Quinteto Vióólaado é?”.
A resposta afirmativa deixa-as tranquilas e felizes.

- “São lá da terrinha né?”
Respondem em conjunto:
- “São siiiim”

A Ciranda do Violado

Não só de atividades mundanas vivem as pessoas e a mulher quer saber como faz para chegar até a Avenida São João à procura da igreja de um dos bispos. Indicações prontamente atendidas pela Adriana, a Recifense com mestrado em ruas do Centrão.
Para o melhor desempenho entre todos os palcos é mais do que necessário um bom condicionamento fisico, comprovado pela Letícia com a agilidade incrível dos seus vinte anos e consequencia dos bons ensinamentos da sua Professora de Educação Fisica, pois não dispunhamos dos préstimos do Murzelo Alazão que ensinado, educado e devidamente encilhado marcou ponto nos verdes pastos do Vale do Anhangabau ouvindo o Instrumental Vinte e Quatro Horas e vendo a Ana Botafogo na espera fiel do seu Dono e sua Musa Verdadeira. Cinco horas e a pausa reconfortante e gastronômica no Café da Manhã do Sesc Pompéia. Desta vêz não fui com toda a sede ao pote e não passei vergonha. Acho.

O baile de rua do Quinteto Violado

Para quem apenas sabia "de ouvir falar" foi uma surpresa conhecer a força do pessoal do Teatro Mágico. Oito horas da manhã e o espaço entre a Avenida Ipiranga até o o palco da praça Julio Mesquita completamente tomado por milhares de jovens, muitos vestidos e maquiados como os personagens, cantando todas as músicas.
A Virada é inspirada no evento frances Noites Brancas e que seja para nós um pedaçinho das mudanças e coisas boas que queremos para o nosso Brasil no lema deles de Igualdade, Liberdade e Fraternidade. E ficamos com a poesia do Chico em homenagem à Revolução dos Cravos, para comemorarmos a liberdade dos povos.

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
n'algum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, como é preciso,
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
algum cheirinho de alecrim

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