RÉQUIEN PARA MESTRE SALUSTIANO

O Ser-tão está de luto pelo passamento de um dos ícones da cultura popular, Mestre Manoel Salustiano Soares, lá de Recife, Pernambuco...




Músico pernambucano Mestre Salustiano morre aos 62 anos
Um dos artistas mais influentes de Pernambuco morreu de arritmia cardíaca provocada pela doença de Chagas

O artista pernambucano Manoel Salustiano, mais conhecido como Mestre Salustiano, morreu aos 62 anos de arritmia cardíaca provocada pela doença de Chagas, na manhã deste domingo (31), no Pronto-socorro Cardiológico de Pernambuco.Mestre Salustiano influenciou uma série de artistas pernambucanos como Siba, Chico Science e Antônio Nóbrega. Nascido em Aliança, Zona da Mata de Pernambuco, o artista sempre lutou pela preservação das manifestações culturais da Zona da Mata, como ciranda, coco, maracatu e caboclinho.Apesar de ser um dos artistas mais influentes da cultura popular pernambucana, Salustiano gravou apenas quatro álbuns em mais de 50 anos de carreira: "Sonho da rabeca", "As três gerações", "Cavalo-marinho", e "Mestre Salu e a sua rabeca encantada".Em 2007, Salustiano recebeu o título de Patrimônio vivo de Pernambuco. Ele também participou das mini-séries da Rede Globo “A Pedra do Reino” e “Hoje É Dia de Maria”.
Fonte: Abril.com

Em vida, Mestre Salustiano foi homenageado por seu discípulo e admirador Antonio Nóbrega:

As Sete Chaves das Artes
eu trago todas
com elas na minha mão
enfrento qualquer perigo.
As tenho como presentes
dos Mestre, grandes amigos.

Meu Mestre Salustiano
me deu lá na Mata Sul
uma garganta de ouro
para eu cantar Maracatu.

(...)
Antonio Nóbrega, em Sambada dos Mestres - Madeira que Cupim Não Rói (2003)


Mas foi nas palavras de uma fã, recifense da gema e gente do povo e que conhecia de perto e de dentro a Casa da Rabeca, que encontramos, talvez, as palavras que aproximam o sentimento de orgulho e amor:

“Salú partiu ligêro feito um Mateus. Argumentando com sua rabequita e suas loas, tomou rumo dos fôrros, quedepois de tanta chuva não tava ramiado, bem no mês onde se oficializouum dia para o Maracatu.
Ficou A casa da Rabeca do Brasil, Manoelzinho tocando e bordando,
Pedrinho que pinota em tudo que é folguedo, Maciel, a sua imagem e bem muita semelhança e mais uma recúla de menino e de menina de ganzá na mão.

Eu aqui, cética, assistindo o cortejo, com boniteza de carnaval, sinto não poder estar lá. Penso que ali no meio do Ilumiara Zumbi deveria ser o seu sepulcro.

Se assim fosse testemunharia quase de corpo presente a continuação da trasnmissão da tradição oral por ele cultuada, sob a estampa de uma gola, manto de lantejoulas e miçanga réplica de seutrabalho de artesão .

Como a Rosa-dos-ventos, de Cícero Dias, no Marco Zero de Recife, demarcaria ali, começo ou fim, depende do prisma, que no caso é uma rima, que provoca um novo desafio.


Foi cambiteiro, gari, motorista de caminhão, vendedor de picolé, artista no bordador de golas do maracatu de baque solto, luthier, músico, poeta e tudo isso culminava num encontro anual lá no espaço(de fronte sua casa), Ilumiara Zumbir, espécie de arena, o muro que circunda tem as paredes entalhadas e meio recôncavas, seria um belo lugar para guarda-lo.”

É o que nos lega, e aos tempos vindouros, Mestre Salustiano.
A benção.

Manuel Salustiano Soares, 12-11-1945, (município de Aliança) - 31/08/2008 (Recife)

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