Quero ter olhos prá ver

Estou na maior correria. Estou trabalhando demais. Não tenho tempo para mais nada. Algumas das respostas e afirmações que fazem parte do dia a dia das pessoas. Parece que já é uma mantra, negativo, infelizmente. Não dão retorno de telefonemas, mal respondem a e-mail, mesmo na linguagem, ou escrita, de poucas teclas. Quando se encontram é o “desfile de rosário” de dificuldades e contratempos. Quem consegue administrar as dificuldades e manter a serenidade e o humor já é visto como um estranho.

Estamos em uma das maiores cidades do mundo, é fato, onde tudo e todos colaboram para o desencontro. Motoristas que não sabem dirigir sem buzinar e ofender os demais. Passageiros de ônibus e metrô correndo, empurrando, sem noções de civilidade como se fosse o último embarque antes do avanço das tropas invasoras. Recentemente, seis horas da manhã na Estação Sé do Metrô, uma jovem correu para entrar no vagão empurrando as pessoas. Falou que “EU tenho que trabalhar”, com enorme ênfase ao EU, como se fosse a única naquela estação e nesta cidade.

Deixamos de perceber quando o “cavalo passa selado”, “enxergar o bonde da história”, ouvir”o som dos carrilhões”.

Contei aqui, em postagem mais antiga, quando um deficiente visual vindo da Álvares Penteado passava pelo Largo do Café em direção à São Bento. Hora do almoço, o Largo tomado por dezenas de pessoas, ele caminha com grande desenvoltura e do outro lado uma deficiente também visual vindo em sua direção. Desacostumado a um olhar mais romântico imaginei, maldosamente, uma “trombada de cegos”. Se aproximam, dão um leve toque com as pontas das suas bengalas, se beijam e continuam o caminho, de mãos dadas em direção ao Largo São Bento.

Onze horas da manhã, o ônibus 5757-10 Cidade Julia – Metrô Conceição relativamente vazio Um jovem casal embarca, a menina passa pela catraca, senta e fica esperando o rapaz que para no degrau lendo alguns papéis. Parece ser um documento importante para ele que demora um pouco antes de passar pela catraca. A menina continua sentada, aguardando e sorrindo. Caminha pelo corredor do ônibus, ainda lendo o documento. Mesmo sentado ao lado da menina continua com os papeis na mão, sem nada falar com ela como se não entendesse o que estava lendo. Consigo ler o nome de uma empresa, tipo laboratório de análise genética e na segunda folha várias imagens pequenas. Imagino, pelo tipo de papel e pela sua reação ser resultado de exame de gravidez. A menina continua olhando e sorrindo para ele que finalmente fala alguma coisa, bem baixinho. Conversam um pouco, se abraçam e se beijam. Deve ser mesmo o que pensei.

No desembarque, já na Estação Conceição, pergunto se é notícia de um “baby”. Com o sorriso mais lindo e feliz que eu poderia perceber, sentir e ver de alguém ela diz que sim, será mãe. Ele sorri timidamente, assustado ainda?. Cumprimento-os, desejo boa sorte e felicidade para ambos e que o filho venha forte e saudável, quem sabe, para um mundo melhor.

É antes do almoço, o dever ainda me chama à responsabilidade. Fosse final de tarde convidaria o jovem casal, eles com coca cola eu com uma cerveja, para um brinde à felicidade.

Faço aqui o meu brinde. Agradeço à jovem pelo sorriso e olhar de paz, alegria e felicidade. Me fêz muito bem e fará melhor ao primogenito. Ao jovem, espero que " a ficha já tenha caido". Forças para receber o primeiro filho.


Juízo Final

Nelson Cavaquinho

“O sol há de brilhar mais uma vez

A luz há de chegar aos corações

O mal será queimada a semente

O amor será eterno novamente

É o Juízo Final, a história do bem e do mal

Quero ter olhos pra ver a maldade desaparecer,

O amor será eterno novamente.”

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