Adios Nonino




Musicos se apresentando nas ruas de São Paulo, nos mais diferentes bairros, é bastante comum, mas a maioria escolhe o Centrão para as suas apresentações. Algumas fotos destes artistas: http://www.sertaopaulistano.com.br/2012/03/musicos-nas-ruas-ser-tao-centrao.html

O que prevalece são as apresentações de "forma acustica", a voz e o som do instrumento tentando superar o barulho dos carros, das vozes das pessoas e dos camelôs. Outros, com melhores condições, rapidamente instalam um pequeno e silencioso motor que fornece energia para pequenas mesas e caixas de som, minúsculos e modernos microfones sem fio fixados na cabeça. O cantor dispensa os instrumentos musicais e faz o lançamento oficial de seu terceiro cd cantando as musicas usando como base os arranjos pré gravados desse cd. Sua esposa faz a demonstração do cd, dança acompanhando o som, vende e leva para o autógrafo do cantor, que assina enquanto canta. O fã que compra fica satisfeito com a simples assinatura do músico. Qualquer espaço, desde que por ali passem muitas pessoas, apressadas ou não, é válido. 

Alguns são muito bons musicos, boa parte com musica apenas instrumental,  cantando e  tocando individualmente, em duplas, trios e conjuntos. O repertório é amplo e eclético: chorinhos, caipira de verdade, sambas, musica clássica. A observação é que os axés, pagodes e sertanojos, mesmo universitários, não são tocados e cantados, principalmente na XV de Novembro e Alvares Penteado, ainda sedes de muitos bancos privados e oficiais e da Bolsa de Valores. Nessas ruas, mais estreitas, ladeadas pelos belissimos prédios do início do século passado, o som que predomina é o acustico. A depender do dia, respeitando regulamentares distancias, violonistas, flautistas, violoncelistas, violinistas, saxofonistas, violeiros e acordeonistas, ou sanfoneiros, dividem o democrático espaço.

Dia desses a musica que chamou de imediato a atenção, por ser conhecida mas nunca ali antes ouvida, vinha de um violinista e um violoncelista. Após o fim da musica era fundamental ter a confirmação: " vocês tocaram Astor Piazzolla?" e a resposta logo entregou a origem dos musicos: ", sí, es sí, Astor Piazzola". Então pronto, diria o nordestino, são hermanos. Luiz, o violinista pergunta: "quieres hacer una música de Piazzolla?";  "Podem tocar Adios Nonino?"; "Sí, sí podemos tocar Adios Nonino". Um momento de grande emoção, em frente ao prédio da Bolsa de Valores, ouvir uma das mais belas composições de Astor Piazzola em uma rua do Centrão, histórica e acostumada a musicos e ritimos brasileiros. Como que por encanto os acordes de Adios Nonino atraiu mais pessoas, um deles um italiano que pediu Libertango e os hermanos tocaram de imediato levando-o às lagrimas disfarçadas por uma providencial tosse. A tocante beleza da música universal no ser tão paulistano. 

Astor Piazzolla é um dos maiores musicos argentinos, responsável por modernizar e renovar o tango, divulgar e apresentar ao mundo. De formação popular e clássica introduziu o bandoneon nas orquestras tradicionais de tango, provocando a ira dos puristas que consideravam indigno o uso do instrumento em uma orquestra. A sua genialidade superou o preconceito inicial e hoje ele é o Maradona, com o perdão pela relação ludopédica, da musica argentina. Adios Nonino foi composta por Piazzola quando, em excursão fora da Argentina, recebeu a notícia da morte de seu pai. Dizem que ele afirmou ter composto a musica como se estivesse rodeado por anjos e que dificilmente faria algo melhor. Os anjos não foram egoistas e permitiram que compusesse muitas outras, se não melhor, no mesmo e elevado nível. Para quem conhece Adios Nonino ouvir de novo será muito bom. Para quem não conhece é o momento e a oportunidade de se emocionar.  


Adios Nonino.


Os hermanos Luiz e Barnabé.


Astor Piazzolla - Adios Nonino



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