DOMINGUINHOS, NOSSO IRMÃO

Sempre considerei Dominguinhos meio parente meu. Não há, que eu saiba, laços sanguíneos, mas nós nordestinos, somos todos aparentados. Saliente-se que sou, de facto, meio nordestino – nascido no interior de São Paulo, de pais pernambucanos, do alto sertão. Por conta dos meus pais e pela grande quantidade de nordestinos presentes na região do Pontal, digo sem sombra de dúvida de que minha formação cultural é nordestina: a maioria dos “causos” que ouvia em criança tinham sotaque da Pátria Sertaneja, tal como bem define o bardo Elomar Figueira de Melo.
E dizer que todos os nordestinos são parentes não é apenas um modo de dizer: canso de ver, aqui no Jabaquara onde moro, bairro de operários, com muitos migrantes, alguém que vive num quarto e cozinha com mulher e filhos receber e alojar em sua casa por algum tempo um conterrâneo que vem tentar a sorte no sul. Divide o que tem: espaço, colchão, comida, fica por uns tempos até alugar seu cantinho e o laço de amizade se perpetua. Não estamos falando de pouca coisa, embora para eles isso seja o mais natural que possa ser: convivialidade, algo que os condomínios de luxo não tem, nem mesmo em certos setores da classe média baixa se cultua a amizade e a reciprocidade. Estudos sociológicos já demonstraram que em determinados lugares onde se verticalizou favelas que as pessoas que passaram a viver nos apartamentos sentiam falta da antiga vida, onde a comunicação era mais facilitada, pois, egressos da vida rural que eram, a vida no espaço horizontal e onde se viam frente a frente de algum modo lembrava as antigas comunidades camponesas onde viviam...
Faço essa breve introdução para dizer que Dominguinhos era um nordestino típico: cara risonha de Lua, alegria contagiante, sotaque carregado, sanfoneiro, forrozeiro. Como não gostar, simpatizar com um sujeito como ele, generoso de corpo e alma? Falar de seu talento, é como diz o Zé Maria, é chover no molhado! E o Zé, sabe do que fala: nosso amigo é conhecido como o memorialista do ser-tão paulistano, graças a sua sensibilidade de perceber e narrar mínimos detalhes da vida que revelam universos inteiros. Sobre a vida e a carreira musical do gênio, as rádios e as TVs, vão justamente mostrar – espero. A nós aqui, do ser-tão paulistano, uma singela e simples homenagem a esse nosso parente, irmão de fé, de alegria, de ideais.
Dominguinhos sempre pareceu a mim um menino. Mas naquelas terras sertanejas, os meninos já nascem grandes, acostumados que são desde a mais tenra idade a assumir responsabilidades de adultos. Mas como Deus é justo, agracia aos mesmos meninos sertanejos a ventura de sempre parecerem meninos, de sempre terem alma de criança.
Hoje eu li muitas coisas legais sobre Dominguinhos nas redes sociais, mas, uma especial me comoveu: foi escrita pela cantora e compositora mineira, radicada em São Paulo, Consuelo de Paula, que faço questão de reproduzir abaixo:
Lindo Dominguinhos. Choro pelas coisas que você chorou. Canto as melodias e palavras que você cantou. Bailarei e sonharei sempre com sua sanfona. Citando Cora Coralina: não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos. Obrigada por tudo. Mil palmas emocionadas pra você. Flores, sanfonas, zabumbas, triângulos, vozes, repentistas e todos os brasileiros: o mundo cantando pra Dominguinhos.” (Consuelo de Paula)

No vídeo um momento raro de Dominguinhos com Luiz Gonzaga: alegria !!!!


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