Um poço em cada quintal.

O bairro de Vila Prudente é um dos mais antigos de São Paulo. O ano da graça de 1.890 marca o início do funcionamento da fábrica de chocolate Falchi que levou moradores de bairros vizinhos mais antigos, como o Ipiranga. Em volta da fábrica foram construidas as casas dos trabalhadores. Muitas existem até hoje com ruas tranqüilas, estreitas, muro baixo, sem grades, vizinhos que se cumprimentam com bom dia e mantém o hábito de conversas de fim de tarde em frente aos portões.

Quando não existia o serviço de água encanada boa parte das residências tinham poços artesianos nos quintais. Recentemente em um das casas, lá pelos lados do Parque São Lucas, dentro dos limites da Vila Prudente e perto do Bar do Frango, o piso da cozinha “afundou”. Foi construída sob um poço aterrado há quarenta anos e, afirmam os técnicos, de maneira precária. Era uma prática normal o aterramento, o que tem deixado os vizinhos preocupados, “com a pulga atrás da orelha”.

Lá pelas bandas de Paraguaçú quase todas as casas também tinham um prá chamar de seu. O “poceiro” era um dos profissionais mais requisitados e bem quisto. Não lembro o nome de um que eram bem conhecido. Peço a ajuda da memória prodigiosa da minha amiga, a Tim, uma cultuadora dos bons tempos e que nos dá o privilégio de fiel leitora do que por aqui se escreve. Não bastava “apenas” a perfuração, que era feita manualmente e sim e principalmente, o acabamento na superfície com a “amarração” perfeita e cuidadosa de tijolos em volta para evitar qualquer acidente.

Na minha casa também havia um que foi aterrado lá pelos anos sessenta quando “chegou a água nas casas”. Foi na época da construção do prédio da CAGESP, o que exigiu a retirada de toneladas de terra. Era só ir até a construção, dar o endereço que imediatamente os caminhões descarregavam quanta terra fosse necessária. A construtora agradecia e muitos aproveitaram a oportunidade para fechar seus poços.

Naquela época existia a CAGESP (Companhia de Armazéns do Estado de São Paulo) e a CEASA (Centro Estadual de Abastecimento) que foram unificadas no ano de um mil novecentos e sessenta e nove e permanecendo até hoje om o nome de CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazens Gerais do Estado de São Paulo. Nesses dias meu pai trabalhava na Anderson Clayton e anos depois foi trabalhar na já CEAGESP, onde se aposentou.

As lembranças boas dos bons tempos não são suficientes para impedir uma tristeza. A dona Maria de Lourdes Alttiman, de sessenta anos, que estava na residência quando o chão cedeu foi hospitalizada e infelizmente morreu dias depois. Vi a imagem do Seu Cândido Alves de Souza, de sessenta e cinco anos, logo após o acidente, chorando, preocupado com a esposa e companheira de tantos anos. Uma cena das mais emocionantes, demonstração de amor sincero. Não o conheço Seu Antonio. Também chorei. Sinto sua perda.
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