
Antes de tudo, aleluias e graças aos céus por desta feita só ter acontecido ataques de riso e alegrias, nada de pccs ou de desânimos, pois isso não combina com a gente. Mais: esse evento já é um dos mais importantes do país e tem tudo para ser mundial – tive a felicidade de ver vários grupos de “gringos”, absolutamente embascacados com nossa alegria reinante, sem falar no talento dos artistas. Assim, realmente não será surpresa nenhuma se a Virada Cultural se tornar parte importante do calendário cultural do planeta, ao nível dos festivais de cinema de Cannes, Berlin, Sundance, etc. (Nem é preciso falar que a Virada tem tudo para superar os festivais de cinema pois é múltiplo!) bem, antes do excesso de entusiasmo, diga-se que a intenção não é competir com ninguém, pois os festivais de cinema tem seu público e charme específicos; porém, a Virada, justamente pela multiplicidade tem seu encanto ímpar. De parabéns estão os responsáveis, sejam os agitadores culturais e autoridades – de que partidos forem! – pela persistência do projeto! Não há dúvida de que esse ano foi um sucesso absoluto e a tendência é crescer.

Não fomos a nenhum evento específico. A intenção era realmente “ver” de perto o que acontecia, o que rolava nas ruas, nas praças, nos teatros, botecos e armazéns. Foi uma grande alegria ver toda aquela gente, multidões de todas as idades – famílias inteiras, crianças de colo! – circulando pelas ruas do Centro Velho, olhos brilhando, sorriso estampado, sem nenhum medo de ser feliz, literalmente! Desde a Praça da Sé, Quintino Bocaiúva, 15 de novembro, Praça Patriarca, um monte de gente alegre curtindo o som eletrônico, forrós, sambas; no Viaduto do Chá, as estátuas vivas interagindo com o público; no Vale Anhangabaú rolava um som que não consegui definir, mas se ouvia os risos, a alegria... Ingenuamente tinha ilusões de ver Egberto e Naná Vasconcelos no Municipal, mas lá chegando vi que até as escadarias estavam cheias. Tinha um telão e caixas acústicas gigantes e ali ficamos um bom tempo, curtindo Naná e devo confessar que valeu a pena, mesmo no telão. Tivemos o azar de, de vez em quando explodir ali dos lados um bate-estaca (eu não conseguia atinar de onde vinha) que acabava abafando o som que as vezes é delicado e tênue do Naná (ah, o problema de quem ouve música ruim é a incontrolável vocação para obrigar os outros a ouvir também, queira ou não! O bate-estaca surgia do nada, violentamente, aparentemente sem nenhuma razão clara e ficava ininterrupto até se cansarem, aparentemente... Respirava-se um pouco e recomeçava o tum-dun-dun-dun! Penso que aquele diacho deveria vir de algum carro, de um desses agro-boys ou algo do gênero!)
Dali passamos pela Praça da República, onde rolava rock, subimos pela Ipiranga, onde vimos uma apresentação de uma das Meninas – a magnífica Marina de La Riva - passamos pela Praça Roosevelt, nos vários espaços teatrais ali presentes – Satyros, Parlapapões – todos lotados e filas enormes, especialmente para ver Os 120 Dias de Gomorra! Ali, sentados nas cadeiras, várias personalidades ligadas ao teatro “formador de opinião”, igualmente dividindo espaço com o público, todos apertados, mas descontraídos e alegres. Na volta, na varanda do 1º andar do SESC 24 de maio, onde antigamente localizava-se a Mesbla, um grupo realizava performances dançantes ao som de cellos e violinos.....

Terminamos a tour na Avenida Paulista, na Casa das Rosas, a tempo de ver Glauco Matoso anunciar que não era mais cego: leve estremecimento no público, antes de ele afirmar categoricamente: agora era uma “pessoa com necessidades especiais”, de acordo com as modernas técnicas lingüísticas politicamente corretas, em voga especialmente na assistência social.... Antes de voltar para casa, uma caneca de café do Armazém Caipira, ao som de violas. Pena que nossos amigos Victor Batista e Cláudio Lacerda já tinham dado sua canja....