CAIPIRISMOS

Aproveitando esse evento Viola de Todos os Cantos, vale relembrar aqui, parte da mística desse fantástico universo, o caipirismo, gênese de nossa formação.

O mundo que gera a viola e os violeiro reflete também modos de ser e pensar distintos, peculiares. O jeito matreiro, a compreensão entrelinhas; o falar arrastado, contido, as inflexões vocais; por vezes o riso, a troça; os causos dramáticos ou cômicos; os incontáveis duplos sentidos que ocultam profundas “reflexões filosóficas”. Outro dia, blogueando pelo espaço internético, dei uma paradinha pra tomar uma água fresca no blog do violeiro e escritor Paulo Freire – quem quiser conferir na íntegra o original: WWW.paulofreireblog.zip.net/ , 21/02/2008 - onde tinha uma história deliciosa: Paulo conta de uma conversa com Levi Ramiro e lá pelas tantas, ao falar de uma questão de produção, prazos, etc., Levi disse: “É como diz meu velho: quem tem tempo, caga longe!”

Quem conhece o universo caipira, compreende perfeitamente todas as implicações correlatas a essa frase: o sujeito com pouco tempo, com um monte de espigas de milho pra carregar pro paiol (tuia) com o danado do jacá que machuca o ombro pra burro; ou aquele que tem de arrancar uma fieira inteira de pés de mandioca antes do anoitecer, na hora que a “coisa aperta”, corre depressinha para a primeira moitinha que encontrar nos arredores e ali faz aquela “necessidade fisiológica” que coloquialmente na modernidade se denomina nº 2... Já aquele camarada que já terminou o serviço e ta folgado ou mesmo o camarada que quer uma desculpa pra fugir do pesado e consumir o tempo, bem antes de a “coisa apertar”, empreende uma longa caminhada, buscando uma moita adequada e afastada, de preferência nas imediações de água corrente para que possa limpar-se corretamente... E durante o trajeto, usa-se o tempo para “pensar na vida”, quiçá tratar de tecer considerações filosóficas mais aprofundadas, tudo para tornar o ato fisiológico útil além de naturalmente agradável...













Assim, o mundo caipira, traz em seus costumes, reflexos de que as sociedades caminham e não ficam estagnadas, tendo, naturalmente, cada qual o seu ritmo próprio, que as mais avançadas geralmente atropelam, sempre com conseqüências desastrosas para o menos dotado tecnologicamente. O estereótipo do caipira preguiçoso e atrasado e doente de amarelão e anemia pode levar a sérios erros de avaliação, isso quando não ocultam maldosamente apenas o argumento para desqualificá-lo com intenções preconceituosas ou mesmo para tentar subjugá-lo economicamente, associando-o a um suposto arcaísmo...




Adbox