Mesmo quem conhecia superficialmente o percussionista Mingo Jacob – como era o meu caso – jamais poderia supor que aquele homem forte, tranqüilo e cheio de vida pudesse ter sua trajetória tão bruscamente interrompida. Um infarto levou Mingo em 28/07, às vésperas de completar 49 anos, no auge da técnica. Como compreender ou aceitar isto?
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Conheci o trabalho do Mingo através da banda Matuto Moderno, os talentosos e arrojados meninos que ousaram eletrificar a música caipira tradicional, produzindo um som novo, recheado de bom humor, sem em nenhum momento agredir a tradição.
Seja na formação anterior com Alex Mathias no vocal, seja a mais recente com Zé Helder, mais os Favoritos da Catira, ver e ouvir o Matuto é garantia segura se sair do show revigorado pela energia pulsante do grupo. E tenha a certeza de que Tião Carreiro pode ser heavy, com guitarra elétrica, violas, baixo, percussão, sapateados. E, a segurar ou acelerar o pulso, lá atrás, Mingo Jacob, que parecia sempre conservar um sorriso de divertida ironia no rosto, atrás dos eternos óculos escuros que adorava usar. A ironia não provinha de excesso de confiança ou falsa modéstia: ele parecia partilhar com todos uma cumplicidade impossível de se definir com palavras: vendo-os em ação e observar a troca de olhares entre os músicos, todos pareciam dizer, para o caso de um imprevisto: “Segura aí, Mingo!”, o que certamente ele faria, tal a segurança com que exercia sua arte. Era, sim, um deleite vê-los em ação.
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Além de carismático, um estudioso de sua arte. É dele o Método Básico de Percussão, trabalho para a posteridade, para as gerações futuras. Um verdadeiro depoimento e testemunho do que possa ser compreendido como amor a arte que exerce, com aquela fé que só os visionários possuem: com Mingo, a percussão que não era apenas uma questão de técnica, mas de algo mais – espiritualidade, filosofia, compromisso social e histórico? Podemos vislumbrar num ápice de tempo de onde vem a força de Ginger Baker, Ron Wood, Allá Rakha, Naná Vasconcelos, Trilok Gurtu, Cássia Maria, Fábio "fabinho" Freire, Zakir Hussain, Papete, Panda Gianfrati, tantas "feras": em Mingo reconhecíamos a brasilidade e também algo universal e solidário, ponte entre o centro e a periferia, entre raças, entre povos.
Tocou também com o violeiro Cícero Gonçalves, o lendário Pena Branca, o novaiorquino Bob Brozman, dentre tantos.
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O Matuto vai prosseguir, todos devemos prosseguir o seu trabalho, executando, divulgando. Impossível, entretanto, substituir Mingo Jacob.
Toda a força ao Matuto e à sua família, pequena homenagem do povo deste sertão paulistano...
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