Como é costume universal, ao se aproximar o final de ano, junto às avaliações e
balanços geraI, os órgãos de imprensa
elegem os melhores do ano, as figuras mais representativas nas artes, nos
esportes, nas ciências, na política, etc.
Desde alguns anos, o blog ser-tão paulistano também se
dedica a eleger seus melhores. Seguindo a tradição de dar destaques a quem não
tem espaço na grande mídia, nossa “seleção” procura destacar entidades ou
personalidades que de alguma forma fizeram e fazem algo de positivo em prol da
imensa comunidade que é a cidade de São Paulo. “Ser Tão Paulistano” é um
privilégio e também uma condição especial nessa
megalópole que acolhe e convive com pessoas e culturas de todas as procedências;
“ser tão paulistano” faz parte de nossa índole desde os primeiros tempos,
independente de quaisquer critérios como política, religião, o que seja.
Nossa “seleção dos melhores” não evoca disputas, é puramente simbólica. É uma
abordagem, digamos, afetiva; e justamente por isso desvinculada de qualquer
hierarquia: os inclusos no TOP DEZ tem
igual valor. O primeiro mencionado pode ser o décimo e vice versa. Também possui igual valor as
“menções honrosas.”
A ordem é aleatória e se
pudéssemos representar graficamente, todos estariam na primeira posição: São
dez figuras, individuais ou coletivas, famosas ou não, entretanto,
representativas e importantes no geral e no particular, reprodutores de
atitudes ou ações que contribuem para um mundo melhor, belo e solidário. São
valores intrínsecos, que resistem e insistem em tornar a cidade acolhedora,
humana. Isto é ser tão paulistano!
OCUPAÇÃPO KÁTYA
TEIXEIRA:
Durante a Ocupação Katya
Teixeira, no espaço UNIBES CULTURA, na Rua Oscar Freire, 2500, comemorou-se o 5º aniversário do “Dandô –
Circulo de Musica Dercio Marques”, projeto criado pela cantora, instrumentista, compositora e pesquisadora de cultura popular Kátya Teixeira, inspirada na figura
de Dércio Marques, semeador de música.
Por ocasião da “ocupação”, houve cantoria, saraus. E muita prosa produtiva. Discutiu-se, analisou-se o papel do artista popular que não é somente um produtor de entretenimentos para o público.
Face o atual fenômeno da globalização, o artista que forçosamente é tornado pesquisador de fenômenos artísticos deixados de fora pelo mercado consumidor, e assim, torna-se verdadeiro educador de algo que podemos chamar brasilidade, algo indispensável para nossa sobrevivência enquanto nação. A cultura, nossa cultura própria e não a importada ou apelativa, é nossa verdadeira alma e devemos levá-la muito a sério.
Por ocasião da “ocupação”, houve cantoria, saraus. E muita prosa produtiva. Discutiu-se, analisou-se o papel do artista popular que não é somente um produtor de entretenimentos para o público.
Face o atual fenômeno da globalização, o artista que forçosamente é tornado pesquisador de fenômenos artísticos deixados de fora pelo mercado consumidor, e assim, torna-se verdadeiro educador de algo que podemos chamar brasilidade, algo indispensável para nossa sobrevivência enquanto nação. A cultura, nossa cultura própria e não a importada ou apelativa, é nossa verdadeira alma e devemos levá-la muito a sério.
O PROJETO RIO ABAIXO, AS
VIOLAS DE VALDIR VERONA
O violeiro,violonista,
compositor, cantor, professor e pesquisador Valdir Verona nos brindou com lançamentos,
quase simultâneos, os CDs Viola de 9 Cordas e o Projeto Rio Abaixo. A viola
caipira, embora tenha chegado ao Sul do país ainda na época da colonização, foi
por muito tempo encoberta nas paragens pampeanas. Valdir Verona promove um
importante resgate e seu trabalho merece ser conhecido.
O disco “Viola de Nove
Cordas surgiu de uma invenção do autor, pois nunca antes existiu no cenário
musical uma “viola de nove cordas”, instrumento de sonoridade única e que, a
meu ver, pode ser um híbrido de antigos instrumentos de corda com o violão
moderno; já o Projeto Rio Abaixo leva para a paisagem sulina a conhecida
afinação “rio abaixo”, adaptando-a aos ritmos do Sul, evidenciando a
extraordinária capacidade que o instrumento possui de adaptar-se. Na viola
caipira, também chamada viola brasileira, toca-se de tudo, desde musica
barroca, cateretês, sambas, chamamés, polcas, rock and roll, etc!
EQUIPE JABAQUARA DE CORRIDAS
Embora seja uma equipe de corridas que disputa inúmeras
competições ao longo do ano, o lema fundamental é o bem-estar das pessoas. Em
seus oito grupos distribuem-se desde atletas de elite ao que realiza caminhadas
para manter-se saudável: na equipe Jabaquara, a prática de corrida está ao
alcance de todos e o laço que liga todos é o respeito a amizade cultivada entre
seus membros. No grupo criado em 1996, todos são tratados com a mesma distinção
e respeito; todos tem o seu lugar. A única exigência para compor a equipe é um
prévio exame médico para medir os limites do esforço e o mais importante de
tudo: disposição para acordar cedo as
terças, quintas e sábados, pois o espaço destinado à pratica de exercícios é
entre as 6:00 e 9:00, no espaço cedido pelo Instituto Botânico, antes da abertura
ao público geral.
Nas planilhas cuidadosamente preparadas pelos professores
Orlando e “seu” Dodô, contando com a colaboração dos professores Edu e
Amarildo, mais a orientação do Celso, todos descobrem o prazer e a magia da
arte de caminhar e correr! É mais do que colocar um pé adiante do outro; é o
deslocamento não só de lugar, mas de
atitude perante a vida e as múltiplas circunstancias que a mesma nos impele. A força motriz da equipe,
entretanto, é a amizade e cordialidade reinante entre aqueles homens e mulheres de todas as idades
e procedências, que carregam em sua gênese o espírito do que significa “ser tão
paulistano!”
TRADIÇÃO IMPROVISADA
O disco inevitável da incomum dupla composta pelo
alagoano “seu” Nelson da Rabeca e o
suíço radicado no Brasil, Thomas Rohrer. Quem acompanha desde anos a trajetória
da dupla de rabequeiros, cuja maior característica é o improviso, desde sempre
esperou pelo registro em disco dos momentos mágicos que sempre proporcionaram
aos felizardos que tem oportunidade de vê-los em ação pelos palcos brasileiros
e também do exterior. O disco, por sinal, com bela produção gráfica, é a
coroação do trabalho que realizam.
Seus improvisos podem durar horas, pode durar a noite
inteira, como acontece nos bailes e quermesses do Brasil profundo. A revivência
pura e autêntica da música popular é o mote que os move, o espírito que os
domina e assim transcendem as noções
costumeiras dos concertos tradicionais, limitados por noções de tempo e espaço.
Para “seu” Nelson, também luthier , Thomas e a
forte presença da cantora Benedita, o tempo e espaço são livres. A música os
contagia e ao publico, deixam-se fluir. Estejam eles diante de platéias atentas,
pouquíssimas pessoas ou apenas os dois, em
qualquer lugar, seja um pé de serra, um terreiro de chão batido numa cabana
perdida em qualquer lugar ou uma beira de praia.
O registro em disco que merece muitas premiações é uma
pequena fração do que pode a “música” através da dupla!
Thomas, Dona Benedita e "seu" Nelson
“SEU” DODÔ
Valdomiro Cocato tem a vida inteira dedicada ao esporte.
Atleta vencedor em seu tempo, atualmente dedica-se a incentivar e orientar
pessoas na prática esportiva. Sua maior felicidade, o que faz seus olhos
brilharem de entusiasmo e contentamento é constatar, a cada dia, nos indivíduos
os benefícios da prática esportiva, independente da condição física, social ou
de idade do individuo.
Voz pausada e em baixo tom, “Dodô” quando fala, nos faz
prestar atenção, pois suas observações são argutas e reveladoras. Outro dia, ao
discretamente chamar a atenção para os exageros que cometíamos num treino
especifico - onde era recomendado correr
em determinado ritmo -, simplesmente comentou, sem qualquer outro alarde: “O
pessoal precisa aprender a correr!”, eufemismo que significa “tem hora para
tudo, agora é ritmo! É para correr dentro do ‘ritmo’ de cada um!” Por essas e
outras, por toda sabedoria que transmite sem alterar em nada sua postura, “seu”
Dodô é um Apóstolo, um evangelizador, mas especialmente um amante do esporte.
Aos 78 anos, é sempre o primeiro a chegar e o último a sair do local de
treinamento.
NA.TI.VO, DE WILSON DIAS
O CD duplo do mineiro Wilson Dias poderia ser apresentado
como um grande legado do músico no auge de sua criatividade, um coroamento de
carreira. Ocorre que o disco é mais que isso, é mais que um exemplar de sua
técnica cada vez mais aprimorada. É um trabalho que insere a cultura popular na
vida cotidiana do Brasil, seja o Brasil profundo, seja o Brasil urbano. A
própria apresentação gráfica, o titulo da obra cujas sílabas são separadas por
pontos (.) conectam imediatamente com a linguagem da informática, bem como
poderia ser nativo.com.br, parafraseando
o titulo de um livro do pesquisador Wile Bolle, sobre Guimarães Rosa, chamado grandesertao,br.
Pois a música de Wilson Dias é muito isso. Apesar de
retratar seu povo, sua “aldeia”, conecta-se com o resto do país e do mundo. As
canções chegam aos nossos ouvidos como “códigos”, como símbolos de resistência.
No Cd duplo – um instrumental, outro de canções – viola, violeiro e um grande
time de músicos - todos personagens
identificados com folguedos populares, cuja poesia, são elementos definidores
de uma brasilidade imorredoura. Dentre as canções, destaque para as letras de
João Evangelista
INSTITUTO JUCA DE CULTURA
O I.J.C. localizado na Rua Cristiano Viana, no Sumaré, foi
criado para homenagear o poeta mineiro, Juca da Angélica, um dos últimos
representantes da tradição oral, arte poética que tende a desaparecer. A muito
custo foi convencido por seu amigo, o
poeta Paulo Nunes – também mineiro – radicado em São Paulo, a ter uma pequena
fração de sua obra registrada em livro.
Os poetas da tradição oral registram tudo na memória,
nada escrevem, como se a escrita anulasse o valor da poesia em si. É uma tradição
muito antiga em muitas partes do mundo, hoje em dia pouco freqüente. Teve seu
auge ao longo de aproximadamente três séculos no nordeste brasileiro através
dos repentistas. A poesia de seu Juca, entretanto, não deve ser confundida com
a tradição repentista, largamente estudada, entre outros, por Camara Cascudo.
Essa pequena parte da poesia de seu Juca registrada em
livro rendeu, até aqui, um CD (Puisia, com o Trio José), além de um filme curta
metragem e inspirar muita gente, encantados com a atmosfera transmitida na arte
de “seu” Juca da Angélica.
O Instituto Juca
de Cultura, além de preservar a obra e memória de seu Juca, é um espaço onde
convivem de forma próxima e harmoniosa músicos, poetas e afins, que ali se
reúnem para apreciar boa musica e poesia, e eventualmente a boa culinária
mineira. Tudo isso num ambiente informal onde, prevalece a leveza descontraída como nos bons tempos.
CONSUELO DE PAULA, NA GALERIA OLIDO
...e poderia ser Consuelo no Teatro da Rotina. Ou Consuelo
e a “Trilogia do Amor”; Consuelo e o “Chamamento”. Enfim, inúmeras faces de uma
artista em plena efervecência e vigor criativo. A variedade de seus temas é
exercida com os múltiplos parceiros de palco e de canções: Amaury Falabella,
Rafael Altério, Grazi Nervegna, Kátya Teixeira,João Arruda, até mesmo uma incrível parceia com Adonirã
Barbosa. Muitas músicas novas foram mostradas ao felizardos que foram a seus
shows, muitas outras aguardam retoques para virem a público.
A apresentação na Galeria Olido merece duplo destaque,
pois o palco retomou uma posição de destaque no cenário da cultura paulistana,
dentro do projeto de revalorização do Centro Velho. A Galeria, sob a Curadoria
do multiartista Luiz Carlos Bahia mostrou ao longo do ano grandes eventos, como
Kátya Teixeira, Vidal França, Consuelo dentre tantos. Na verdade, cada um
merece destaque especial, pela valorização concedida a cultura popular.
Fiquemos com Consuelo, a mineira delicada de voz cristalina que não cansa de
surpreender. Sua obra, composta de 8 CDs impecáveis, cada um deles
desdobramentos da inesgotável
brasilidade que ela traz no corpo e na alma. São testemunhos de sua inquietude, empenhada em ir a fundo a
procura de revelar aspectos ainda desconhecidos de nossa musica. Esperemos que
continue nos tempos futuros, as apresentações na Galeria Olido, no Centro de S.
Paulo.
GRAZI NERVEGNA,
Com o lançamento do seu disco de estréia “Anambé”, Grazi
Nervegna já nasceu grande. Trabalho capital, certeiro para o momento
brasileiro, em que o país pende perigosamente para radicalismos estranhos à
nossa índole.
Produzido por Consuelo de Paula, acompanhada em todas as faixas
pelo jovem mago das cordas dedilhadas, João Arruda, com participação de
Carlinhos Ferreira na percussão, “Anambé”, nome de origem indígena que
significa “caminhar juntos” se abre
como um imenso Portal de possibilidades que nos convida a revisitar suas
lembranças, sua trajetória como pessoa e como artista.
Alegre, festivo e
poderoso sobrevôo capaz de desbravar novos rumos para a musica brasileira, “Anembé”
é como um ritual de purificação. Anembé Brasil!
FABIENNE MAGNANT NO SESC CONSOLAÇÃO
Fabienne apresenta-se nos palcos europeus como violeira/guitarriste.
Numa de suas grandes imersões na música brasileira, descobriu a viola caipira e
desde então tem sido uma de suas companheiras de palco, junto com a guitarra
flamenga e o violão clássico.
Esteve em São Paulo no meio do ano onde fez uma
série de apresentações em São Paulo, Rio de janeiro e Curitiba. Na capital
paulista, brindou o publico com uma apresentação de gala onde mostrou musicas
de seus quatro discos – sempre tendo presente a musica brasileira – composições
inéditas e um particularmente brilhante
arranjo para , Asa Branca, de Gonzagão (que pode ser vista no youtube,
digitando Asa Braca Fabienne Magnant).
Sua alma cigana (de quem, a propósito possui remota
descendência), a francesa de Órleans navega com autoridade e delicadeza pelos
vastos mundos das cordas dedilhadas. No violão clássico, na viola caipira ou no
violão flamengo, consegue internalizar
esses mundos aparentemente dispares e os harmoniza, impondo a cada um
dos instrumentos sua personalidade musical, fortalecendo assim os laços do
perpétuo diálogo, sempre pertinaz, que deve haver entre as culturas, os povos,
os individuos.
Deve voltar ao Brasil no ano que vem e deve trazer novidades. Os
ventos e os pássaros trazem noticias de prováveis parcerias ligando
Brasil-França-Portugal-Espanha. A esperar e torcer apreciarmos entre nós essa
embaixadora da viola brasileira pelo mundo. A propósito, por lá, no estrangeiro
se grafa viola caipira, assim mesmo,
trema no “ï”, mas é mesmo nossa
violinha, em soberbo sotaque.
Ricardo Vignini e Fabienne
Fernando Deghi e Fabienne
DESTAQUE ESPECIAL PARA PEDRO VAZ E SUA VIOLA POÉTICA
Dentre os muitos vértices a cada dia revelados pela
(re)desco0berta da viola caipira, merece destaque a poesia sonora utilizada sem temor no CD de
estréia de Pedro Vaz, “Dê Espaço ao Tempo”.
Mais que uma imagem simplesmente, destinada a tornar-se
clichê; está além da própria poética contida no trabalho, o som da viola serve
de verdadeiro anteparo, seja como “moldura” de cenários idílicos, em movimento,
na cidade ou no campo. Fato é que o som da viola vem realçar o que seus apreciadores
conhecem faz tempos: um instrumento para todas as ocasiões; seja tocada à porta
de um ranchinho pau-a-pique no sertão ignoto ou na Av paulista ou São João,
como disse certa vez o violeiro Passoca. O Cd de Pedro Vaz é uma chave, a abrir
caminhos para maiores usos desse instrumento tão brasileiro e tão universal.
E, num ano tão pródigo,
MENÇÕES HONROSAS:
* “DISCOGRAFIA”, de Antonio Pereira
* “VENTA MOINHO”, de João Arruda
* “PERFUMOSA”, de Lui Coimbra, Ceumar e Paulo Freire
(lembrando Inesita Barroso
* Os lançamentos do Selo SESC, especialmente “Viola
Paulista”, uma brilhante seleção de magníficos violeiros desconhecidos;
relançamento do CD de estréia de Paulo Martelli, “Debut”.
E sempre merece destaque em qualquer seleção dos melhores, o blog dedicado exclusivamente à musica do Marcelino Lima, sempre bem acompanhado por Andréia Beillo!
Que venha 2019 e seja próspero.