TOP DEZ 2018





Como é costume universal, ao se aproximar  o final de ano, junto às avaliações e balanços geraI, os órgãos  de imprensa elegem os melhores do ano, as figuras mais representativas nas artes, nos esportes, nas ciências, na política, etc.
Desde alguns anos, o blog ser-tão paulistano também se dedica a eleger seus melhores. Seguindo a tradição de dar destaques a quem não tem espaço na grande mídia, nossa “seleção” procura destacar entidades ou personalidades que de alguma forma fizeram e fazem algo de positivo em prol da imensa comunidade que é a cidade de São Paulo. “Ser Tão Paulistano” é um privilégio e também uma condição especial nessa  megalópole que acolhe e convive com pessoas e culturas de todas as procedências; “ser tão paulistano” faz parte de nossa índole desde os primeiros tempos, independente de quaisquer critérios como política, religião, o que seja.
Nossa “seleção dos melhores” não evoca  disputas, é puramente simbólica. É uma abordagem, digamos, afetiva; e justamente por isso desvinculada de qualquer hierarquia: os  inclusos no TOP DEZ tem igual valor. O primeiro mencionado pode ser o décimo e vice versa.  Também possui igual valor as “menções honrosas.”
A ordem é aleatória e se pudéssemos representar graficamente, todos estariam na primeira posição: São dez figuras, individuais ou coletivas, famosas ou não, entretanto, representativas e importantes no geral e no particular, reprodutores de atitudes ou ações que contribuem para um mundo melhor, belo e solidário. São valores intrínsecos, que resistem e insistem em tornar a cidade acolhedora, humana. Isto é ser tão paulistano!


OCUPAÇÃPO KÁTYA TEIXEIRA:

Durante a Ocupação Katya Teixeira, no espaço UNIBES CULTURA, na Rua Oscar Freire, 2500,  comemorou-se o 5º aniversário do “Dandô – Circulo de Musica Dercio Marques”, projeto criado pela cantora, instrumentista, compositora e pesquisadora de cultura popular Kátya Teixeira, inspirada na figura de Dércio Marques, semeador de música. 
Por ocasião da “ocupação”, houve cantoria, saraus. E muita prosa produtiva. Discutiu-se, analisou-se o papel do artista popular que não é somente um produtor de entretenimentos para o público.
Face o atual fenômeno da globalização, o artista que forçosamente é tornado pesquisador de fenômenos artísticos deixados de fora pelo mercado consumidor, e assim, torna-se verdadeiro educador de algo que podemos chamar brasilidade, algo indispensável para nossa sobrevivência enquanto nação. A cultura, nossa cultura própria e não a importada ou apelativa, é nossa verdadeira alma e devemos levá-la muito a sério.





O PROJETO RIO ABAIXO, AS VIOLAS DE VALDIR VERONA

O violeiro,violonista, compositor, cantor, professor e pesquisador Valdir Verona nos brindou com lançamentos, quase simultâneos, os CDs Viola de 9 Cordas e o Projeto Rio Abaixo. A viola caipira, embora tenha chegado ao Sul do país ainda na época da colonização, foi por muito tempo encoberta nas paragens pampeanas. Valdir Verona promove um importante resgate e seu trabalho merece ser conhecido.
O disco “Viola de Nove Cordas surgiu de uma invenção do autor, pois nunca antes existiu no cenário musical uma “viola de nove cordas”, instrumento de sonoridade única e que, a meu ver, pode ser um híbrido de antigos instrumentos de corda com o violão moderno; já o Projeto Rio Abaixo leva para a paisagem sulina a conhecida afinação “rio abaixo”, adaptando-a aos ritmos do Sul, evidenciando a extraordinária capacidade que o instrumento possui de adaptar-se. Na viola caipira, também chamada viola brasileira, toca-se de tudo, desde musica barroca, cateretês, sambas, chamamés, polcas, rock and roll, etc!





EQUIPE JABAQUARA DE CORRIDAS

Embora seja uma equipe de corridas que disputa inúmeras competições ao longo do ano, o lema fundamental é o bem-estar das pessoas. Em seus oito grupos distribuem-se desde atletas de elite ao que realiza caminhadas para manter-se saudável: na equipe Jabaquara, a prática de corrida está ao alcance de todos e o laço que liga todos é o respeito a amizade cultivada entre seus membros. No grupo criado em 1996, todos são tratados com a mesma distinção e respeito; todos tem o seu lugar. A única exigência para compor a equipe é um prévio exame médico para medir os limites do esforço e o mais importante de tudo:  disposição para acordar cedo as terças, quintas e sábados, pois o espaço destinado à pratica de exercícios é entre as 6:00 e 9:00, no espaço cedido pelo Instituto Botânico, antes da abertura ao público geral.
Nas planilhas cuidadosamente preparadas pelos professores Orlando e “seu” Dodô, contando com a colaboração dos professores Edu e Amarildo, mais a orientação do Celso, todos descobrem o prazer e a magia da arte de caminhar e correr! É mais do que colocar um pé adiante do outro; é o deslocamento  não só de lugar, mas de atitude perante a vida e as múltiplas circunstancias que a mesma  nos impele. A força motriz da equipe, entretanto, é a amizade e cordialidade reinante entre  aqueles homens e mulheres de todas as idades e procedências, que carregam em sua gênese o espírito do que significa “ser tão paulistano!”








TRADIÇÃO IMPROVISADA

O disco inevitável da incomum dupla composta pelo alagoano  “seu” Nelson da Rabeca e o suíço radicado no Brasil, Thomas Rohrer. Quem acompanha desde anos a trajetória da dupla de rabequeiros, cuja maior característica é o improviso, desde sempre esperou pelo registro em disco dos momentos mágicos que sempre proporcionaram aos felizardos que tem oportunidade de vê-los em ação pelos palcos brasileiros e também do exterior. O disco, por sinal, com bela produção gráfica, é a coroação do trabalho que realizam.
Seus improvisos podem durar horas, pode durar a noite inteira, como acontece nos bailes e quermesses do Brasil profundo. A revivência pura e autêntica da música popular é o mote que os move, o espírito que os domina e assim transcendem  as noções costumeiras dos concertos tradicionais,  limitados por noções de tempo e espaço.
Para “seu” Nelson, também luthier , Thomas e a forte presença da cantora Benedita, o tempo e espaço são livres. A música os contagia e ao publico, deixam-se fluir. Estejam eles diante de platéias atentas, pouquíssimas pessoas  ou apenas os dois, em qualquer lugar, seja um pé de serra, um terreiro de chão batido numa cabana perdida em qualquer lugar ou uma beira de praia.
O registro em disco que merece muitas premiações é uma pequena fração do que pode a “música” através da dupla!


Thomas, Dona Benedita e "seu" Nelson


“SEU” DODÔ
Valdomiro Cocato tem a vida inteira dedicada ao esporte. Atleta vencedor em seu tempo, atualmente dedica-se a incentivar e orientar pessoas na prática esportiva. Sua maior felicidade, o que faz seus olhos brilharem de entusiasmo e contentamento é constatar, a cada dia, nos indivíduos os benefícios da prática esportiva, independente da condição física, social ou de idade do individuo.
Voz pausada e em baixo tom, “Dodô” quando fala, nos faz prestar atenção, pois suas observações são argutas e reveladoras. Outro dia, ao discretamente chamar a atenção para os exageros que cometíamos num treino especifico -  onde era recomendado correr em determinado ritmo -, simplesmente comentou, sem qualquer outro alarde: “O pessoal precisa aprender a correr!”, eufemismo que significa “tem hora para tudo, agora é ritmo! É para correr dentro do ‘ritmo’ de cada um!” Por essas e outras, por toda sabedoria que transmite sem alterar em nada sua postura, “seu” Dodô é um Apóstolo, um evangelizador, mas especialmente um amante do esporte. Aos 78 anos, é sempre o primeiro a chegar e o último a sair do local de treinamento.







NA.TI.VO, DE WILSON DIAS

O CD duplo do mineiro Wilson Dias poderia ser apresentado como um grande legado do músico no auge de sua criatividade, um coroamento de carreira. Ocorre que o disco é mais que isso, é mais que um exemplar de sua técnica cada vez mais aprimorada. É um trabalho que insere a cultura popular na vida cotidiana do Brasil, seja o Brasil profundo, seja o Brasil urbano. A própria apresentação gráfica, o titulo da obra cujas sílabas são separadas por pontos (.) conectam imediatamente com a linguagem da informática, bem como poderia ser nativo.com.br, parafraseando o titulo de um livro do pesquisador Wile Bolle, sobre Guimarães Rosa, chamado grandesertao,br.
Pois a música de Wilson Dias é muito isso. Apesar de retratar seu povo, sua “aldeia”, conecta-se com o resto do país e do mundo. As canções chegam aos nossos ouvidos como “códigos”, como símbolos de resistência. No Cd duplo – um instrumental, outro de canções – viola, violeiro e um grande time de músicos -  todos personagens identificados com folguedos populares, cuja poesia, são elementos definidores de uma brasilidade imorredoura. Dentre as canções, destaque para as letras de João Evangelista




INSTITUTO JUCA DE CULTURA

O I.J.C.  localizado na Rua Cristiano Viana, no Sumaré, foi criado para homenagear o poeta mineiro, Juca da Angélica, um dos últimos representantes da tradição oral, arte poética que tende a desaparecer. A muito custo foi convencido  por seu amigo, o poeta Paulo Nunes – também mineiro – radicado em São Paulo, a ter uma pequena fração de sua obra registrada em livro.
Os poetas da tradição oral registram tudo na memória, nada escrevem, como se a escrita anulasse o valor da poesia em si. É uma tradição muito antiga em muitas partes do mundo, hoje em dia pouco freqüente. Teve seu auge ao longo de aproximadamente três séculos no nordeste brasileiro através dos repentistas. A poesia de seu Juca, entretanto, não deve ser confundida com a tradição repentista, largamente estudada, entre outros, por Camara Cascudo.
Essa pequena parte da poesia de seu Juca registrada em livro rendeu, até aqui, um CD (Puisia, com o Trio José), além de um filme curta metragem e inspirar muita gente, encantados com a atmosfera transmitida na arte de “seu” Juca da Angélica.
 O Instituto Juca de Cultura, além de preservar a obra e memória de seu Juca, é um espaço onde convivem de forma próxima e harmoniosa músicos, poetas e afins, que ali se reúnem para apreciar boa musica e poesia, e eventualmente a boa culinária mineira. Tudo isso num ambiente informal onde, prevalece a leveza descontraída  como nos bons tempos.





CONSUELO DE PAULA, NA GALERIA OLIDO

...e poderia ser Consuelo no Teatro da Rotina. Ou Consuelo e a “Trilogia do Amor”; Consuelo e o “Chamamento”. Enfim, inúmeras faces de uma artista em plena efervecência e vigor criativo. A variedade de seus temas é exercida com os múltiplos parceiros de palco e de canções: Amaury Falabella, Rafael Altério, Grazi Nervegna, Kátya Teixeira,João Arruda,  até mesmo uma incrível parceia com Adonirã Barbosa. Muitas músicas novas foram mostradas ao felizardos que foram a seus shows, muitas outras aguardam retoques para virem a público.
A apresentação na Galeria Olido merece duplo destaque, pois o palco retomou uma posição de destaque no cenário da cultura paulistana, dentro do projeto de revalorização do Centro Velho. A Galeria, sob a Curadoria do multiartista Luiz Carlos Bahia mostrou ao longo do ano grandes eventos, como Kátya Teixeira, Vidal França, Consuelo dentre tantos. Na verdade, cada um merece destaque especial, pela valorização concedida a cultura popular. Fiquemos com Consuelo, a mineira delicada de voz cristalina que não cansa de surpreender. Sua obra, composta de 8 CDs impecáveis, cada um deles desdobramentos  da inesgotável brasilidade que ela traz no corpo e na alma. São testemunhos  de sua inquietude, empenhada em ir a fundo a procura de revelar aspectos ainda desconhecidos de nossa musica. Esperemos que continue nos tempos futuros, as apresentações na Galeria Olido, no Centro de S. Paulo.




GRAZI  NERVEGNA,

Com o lançamento do seu disco de estréia “Anambé”, Grazi Nervegna já nasceu grande. Trabalho capital, certeiro para o momento brasileiro, em que o país pende perigosamente para radicalismos estranhos à nossa índole.
Produzido por Consuelo de Paula, acompanhada em todas as faixas pelo jovem mago das cordas dedilhadas, João Arruda, com participação de Carlinhos Ferreira na percussão, “Anambé”, nome de origem indígena que significa “caminhar juntos” se abre como um imenso Portal de possibilidades que nos convida a revisitar suas lembranças, sua trajetória como pessoa e como artista. 
Alegre, festivo e poderoso sobrevôo capaz de desbravar novos rumos para a musica brasileira, “Anembé” é como um ritual de purificação. Anembé Brasil!






FABIENNE MAGNANT NO SESC CONSOLAÇÃO

Fabienne apresenta-se nos palcos europeus  como violeira/guitarriste. Numa de suas grandes imersões na música brasileira, descobriu a viola caipira e desde então tem sido uma de suas companheiras de palco, junto com a guitarra flamenga e o violão clássico. 

Esteve em São Paulo no meio do ano onde fez uma série de apresentações em São Paulo, Rio de janeiro e Curitiba. Na capital paulista, brindou o publico com uma apresentação de gala onde mostrou musicas de seus quatro discos – sempre tendo presente a musica brasileira – composições inéditas e um particularmente brilhante  arranjo para , Asa Branca, de Gonzagão (que pode ser vista no youtube, digitando Asa Braca Fabienne Magnant).

Sua alma cigana (de quem, a propósito possui remota descendência), a francesa de Órleans navega com autoridade e delicadeza pelos vastos mundos das cordas dedilhadas. No violão clássico, na viola caipira ou no violão flamengo, consegue internalizar  esses mundos aparentemente dispares e os harmoniza, impondo a cada um dos instrumentos sua personalidade musical, fortalecendo assim os laços do perpétuo diálogo, sempre pertinaz, que deve haver entre as culturas, os povos, os individuos. 
Deve voltar ao Brasil no ano que vem e deve trazer novidades. Os ventos e os pássaros trazem noticias de prováveis parcerias ligando Brasil-França-Portugal-Espanha. A esperar e torcer apreciarmos entre nós essa embaixadora da viola brasileira pelo mundo. A propósito, por lá, no estrangeiro se grafa viola caipira, assim mesmo, trema no “ï”, mas é mesmo nossa violinha, em soberbo sotaque.


  Ricardo Vignini e Fabienne

Fernando Deghi e Fabienne 







DESTAQUE ESPECIAL PARA PEDRO VAZ E SUA VIOLA POÉTICA

Dentre os muitos vértices a cada dia revelados pela (re)desco0berta da viola caipira, merece destaque  a poesia sonora utilizada sem temor no CD de estréia de Pedro Vaz, “Dê Espaço ao Tempo”.
Mais que uma imagem simplesmente, destinada a tornar-se clichê; está além da própria poética contida no trabalho, o som da viola serve de verdadeiro anteparo, seja como “moldura” de cenários idílicos, em movimento, na cidade ou no campo. Fato é que o som da viola vem realçar o que seus apreciadores conhecem faz tempos: um instrumento para todas as ocasiões; seja tocada à porta de um ranchinho pau-a-pique no sertão ignoto ou na Av paulista ou São João, como disse certa vez o violeiro Passoca. O Cd de Pedro Vaz é uma chave, a abrir caminhos para maiores usos desse instrumento tão brasileiro e tão universal.






E, num ano tão pródigo,

MENÇÕES HONROSAS:
* “DISCOGRAFIA”, de Antonio Pereira
* “VENTA MOINHO”, de João Arruda
* “PERFUMOSA”, de Lui Coimbra, Ceumar e Paulo Freire (lembrando Inesita Barroso
* Os lançamentos do Selo SESC, especialmente “Viola Paulista”, uma brilhante seleção de magníficos violeiros desconhecidos; relançamento do CD de estréia de Paulo Martelli, “Debut”.

E sempre merece destaque em qualquer seleção dos melhores, o blog dedicado exclusivamente à musica do Marcelino Lima, sempre bem acompanhado por Andréia Beillo!

Que venha 2019 e seja próspero.


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