Téo Azevedo, nome de batismo Teófilo Azevedo Filho, nascido a 02-07-1943, em de Alto Belo, Minas Gerais, nos deixou em 11-05-2024, aos 80 anos. Fez muito pela cultura brasileira, mas tinha energia e disposição para continuar
Este breve texto está a anos-luz de fazer uma apresentação de sua obra gigantesca. Nós, do blogue Ser-tão Paulistano, fazemos aqui um breve lembrete para que saiam a campo e, quem não conhece, que corra a conhecer Téo Azevedo, enquanto ainda existem livros e discos físicos pois logo e logo deve estar só na nuvem e aí os interessados vão ter de voar até as nuvens!
Se colocássemos apenas em números a carreira de Téo Azevedo, seria algo impressionante: são mais de 2500 músicas, uns 12 livros, trabalhos em cordel, 18 discos registrados (segundo o Dicionário de Música Cravo Albin).
Cada um dos tópicos das performances a seguir mereceria estudo detalhado: cantor, compositor, folclorista, radialista, produtor, violeiro, declamador de poesia matura (bem ao estilo de Patativa do Assaré ou de Juca de Angélica, mestre em literatura oral da região de Patos de Minas. Ver nascer em suas terras artistas como Téo Azevedo e Juca de Angélica, além de Guimarães Rosa e a moçada do Clube da Esquina e outros/outras mais, é prova inconteste para definir Minas Gerais como um Planeta).
E esse autor de obra gigantesca, em qualidade e tamanho, era um autodidata que só frequentou a escola regular o bastante para decifrar as primeiras letras, recurso que ele explorou e ampliou, escrevendo livros, compondo, trabalhando em rádio, realizando pesquisas ao longo da vida. Téo Azevedo literalmente dedicou sua vida a descobrir os encantos e tragédias do Brasil profundo, tal qual seu conterrâneo Guimarães Rosa. Sua estética era a beleza crua e silvestre, a voz forte dos cantadores ecoando nos terreiros, nas veredas. Sempre fez questão de ser re-conhecido como poeta e cantador matuto, era assim que se sentia bem deixando para os letrados de gabinete os títulos e diplomas honoris causa, e etc!
Não é exagero qualificar Téo Azevedo como “descobridor do Brasil”, seja para os compatriotas, seja para o mundo, ele que fez de sua “aldeia” – a vasta região entre rio Jequitinhonha e São Francisco - uma síntese do próprio universo, pois aquele mundo esquecido e desprezado pelo Brasil oficial civilizado, guarda segredos desde tempos imemoriais; aquela gente brava e sobrevivente em tempos de hoje corre risco de desaparecer justamente pelo avanço da fronteira agrícola e sua sanha de a tudo arrasar em nome do agronegócio. A continuar a insanidade, só vai restar vento e poeira, como diria o profeta Ignácio de Loyola Brandão!
É tempo deste país sem memória tratar de reconhecer os tesouros que Téo descobriu e nos deu a todos de presente. Importante ressaltar que Téo foi literalmente um guerreiro, natural defensor do cerrado e seu fruto-símbolo, o pequi. Da mesma forma que o catingueiro ama e respeita o Umbú (ou Imbu, como dizia minha mãe), a árvore que permanece verde e pujante durante as piores secas.
PequizeiroUmbuzeiro
Agora que Teo se foi, só nos resta resgatar ou recriar a consciência que não pode se resumir a um único homem – era um homem despido de vaidades. Num de seus cantos ele diz: meu orgulho é ser vaqueiro. Defender seu legado, é tarefa de todos nós. Téo Azevedo era artista, mas não meramente diletante, música não era hobby, mas instrumento de combate: literalmente era lutador, chegando de fato a lutar boxe na juventude e em momentos de aperto. Pra nossa sorte, suas mãos fortes e calejadas, gostavam mesmo era da delicadeza da viola e guiar as letras desfilando no papel!
Téo Azevedo, cantador, violeiro, lutador de box, vaqueiro, folião, poeta era desses seres meio mágicos que carregam grudado no corpo “o cheiro e a cor de sua terra, a marca de sangue de seus mortos e a certeza de luta de seus vivos”, conforme definiu com acerto o poeta potiguar François Silvestre. Seu pai, também de nome Teófilo, apelidado seu Tiófo, foi um lendário violeiro que se notabilizou por tocar viola com um braço só, depois que um tiro acidental de espingarda de caça lhe decepou um dos braços. Um desses casos raríssimos onde a lenda supera o homem, ainda mais quando se torna tema de outro mineiro legendário: Carlos Drummond de Andrade, no livro “Viola de Bolso”.
A vida artística e pessoal de Teo Azevedo poderia figurar num romance e só contando a verdade! Se fosse uma história de ficção, caberia alguma fantasia, mas não poderia de forma alguma esquecer de mencionar sua defesa do cerrado e da cultura catrumana!
Nos livros, discos, nas histórias de cordel, Téo era (e vai continuar sendo) uma verdadeira enciclopédia cultural brasileira, tudo com inaudita intensidade poética, se derramando ao longo da obra: folia, repentes, coco, forró, calango, sextilhas, toadas, lundu, guiano. Seu trabalho, seu grande feito foi reconhecido com a conquista do Premio Grammy Latino, a ele concedido em 2013, como o melhor disco raiz, feito em homenagem ao centenário a seu amigo Luiz Gonzaga, o Gonzagão.
De sua vasta discografia, destacamos – dentre muitos: 1) o disco-síntese “Brasil, Terra da Gente”, uma raridade;
2) “Blues Matuto”, disco surpreendente, contando com a participação do saxofonista norte americano Bobby Keys, Dominguinhos, Blues Etílicos e Jackson Antunes, conquistando amigável e amorosamente, as fronteiras do universo musica, tornando a Música é ponto de encontro.
“Não tenho inveja de nada
do doutor ao garimpeiro
não me importo com diploma
nem dou bola ao dinheiro
eu me sinto tão feliz
já andei tanto o país
meu orgulho é ser vaqueiro”.
(Do disco “Forró e Calango”)