Passaredos Paulistanos


Na semana passada eu fui até a cidade (o centro dela), e só para ver se minha alma deixava de “ser tão” passarinheira*, como nos últimos dias. Empoleirada no metrô, de repente, fui abatida por um baita passaroco** bem no meio daquela passarinhada toda que andava em revoada de lá pra cá, de cá pra lá, misturada em todos os seus tipos: tinha os brancos, os pretos, os amarelos, os pardos, os abastados ou não, porque São Paulo é assim, cheia das multidões regionalizadas, todas imbricadas nos passeadouros da cidade. Eu ainda pensava nisso quando, já fora do metrô, atravessava a Passarela das Noivas, olhando os contrastes da metrópole. Por aí vai, cheguei à Estação da Luz a fim de piar com Clarice Lispector, lá no Museu da Língua Portuguesa, ler o que ela tinha para me dizer no “ser-tão” de minha alma:

“Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria”.
(inscrição na lápide de Clarice Lispector)

É a possibilidade de se encontrar tantos eus distintos e longínquos da própria cidade que a torna, assim, tão paulistana. Mesmo que Clarice e Florbela Espanca (as aproximo pois é a forma que as vejo) nunca tenham posto os pés aqui, eu sempre poderei encontrá-las nos ninhos deste passaredo paulistano, mesmo que por uns instantes.

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*Passarinheira: do verbo passarinhar: levar vida de vadio; vadiar, vagabundar.
** Passaroco: sentimento de tristeza, melancolia.
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