José Antônio da Silva (1909-1996), natural de Sales Oliveira, SP, tem uma trajetória especial. Artista caipira, dos legítimos, nunca brigou com sua origem. Como Cândido Portinari, saído do mesmo meio rural, e superando dificuldades, ele conseguiu levar seu trabalho para o exterior: tem obras até no Museu de Arte Moderna, o "MoMa", de Nova York.
Não estranhava a mídia: em 1966, gravou um disco no qual, ao lado de dois curiosos depoimentos (Descoberta e Sofrimento do Artista e Como me Tornei Artista), incluiu diversas composições musicais de sua autoria, de títulos tão significativos como Encontro com a Cascavel, Encontro com o Lubisomem ou Dança de São Gonçalo, que bem explicam o seu mundo de idéias. Considerado por muitos críticos de arte como um dos mais importantes pintores brasileiros, Silva destaca-se como colorista espontâneo e sensível, e seus quadros, vazados num desenho ingênuo, obedecendo a uma ciência intuitiva da composição, recriam o meio rural paulista dentro de uma ótica autenticamente caipira.
“Pinto a lavoura
Também pinto as pastaria
Pinto a empregada e a patroa
Pinto a Joana e a Maria.
Pinto carroça e carreta
Pinto carro e carretão
Pinto o pedreiro na picareta
Pinto o colono no enxadão”
(em “Sou pintor, Sou poeta”, de 1982)
"Silva foi um Antônio; um José... tudo nome de gente simples, ordeira e cumpridora. Foi emblema político e gritante do sem-terra, do sem-teto, do sem-nada que venceu na vida. À moda dos artistas populares, e incorporando tardiamente um ardente romantismo, fez de sua existência, arte; de sua arte, vida. Era personagem de si mesmo, um rapsodo perdido em desejos. Materializou o mito do pertencimento à nação... ao caipirismo. Seu tino para a expressão crua da arte fez ecoar pelos quatro ventos as aspirações, devaneios, sentimentos e paixão que identificam a maioria esquecida e espezinhada do país. Seu primitivismo de cores desnorteantes – para os padrões chiques das “belas artes” – revigora arquétipos e símbolos elementares da existência coletiva. O artista parece a encarnação da voz do povo, pronunciada no dialeto esquecido pelas elites integradas. Seja em pintura, literatura ou no que lhe indicasse a prodigiosa inspiração, Silva se expressava – como poetizaria Manuel Bandeira em “Evocação do Recife” – na língua errada do povo, na língua certa do povo, pois ele é que fala gostoso o português do Brasil. José Antônio, ingênuo em muitos aspectos, foi sujeito sabido, despachado, instintivo, descomedido, espontâneo e previdente; foi singelamente culto – no sentido mais refinado que se dá a essa palavra. " (Romildo Sant'Anna)
Fazenda (1993)
Passeio de Jegue (1978)
José Antônio da Silva morreu em São Paulo, em 1996. Quem quiser conhecer de perto esse trabalho tão importante, pode procurar o "Museu de Arte Primitivista José Antônio da Silva", que fica no Centro Cultural Professor Daud Jorge Simão, em São José do Rio Preto.



Fazendinha (1957)
