Crianças de Luz

Navegando pelo blog do Luis Nassif, encontro um texto, Crianças de Luz, estou pensando em algumas coisas até agora. Como se do sertão se pudesse chegar ao mundo, e vice-versa. Sim, e vice-versa. Um relato para a gente chamar de nosso, com certeza:

[[[ por Silvana, para Nassif ]]]



(...)

Hoje fomos a um "lixão" em Manágua, onde havia denúncias de crianças que lá trabalham. Como no Brasil isso é até comum, a gente até se incomoda, mas nem tanto quanto europeu. O pessoal que eu acompanhava como intérprete ficou chocado.

Eles até choraram, alguns passaram mal, não se conformaram com o que viam. Eu me senti mal por não ter passado mal, acredita... Eu me senti mal por não ter ficado tão chocada quanto eles. Eu deveria me chocar!

É Nassif, a gente vai ficando insensível... E isso abre uma porta que não deveria: a de achar que isso pode ser normal. Crianças comendo em lixão e procurando brinquedos pra se divertir no meio da podridão não deveria nunca ser normal... Mas meu primeiro pensamento foi: "no Brasil isso tem de montão, não é novidade". Eu deveria ter me indignado mais, os brasileiros deveriam se indignar mais. Mas a gente vai se acostumando, fechando os vidros dos carros no faróis, não indo a lugares pobres... Vamos nos cercando.

E os europeus e nórdicos são firmes, não espanam facilmente. Se emocionaram mas meteram a mão na cumbuca viu... Cadastramos as crianças, as famílias, fizemos os primeiros atendimentos médicos, demos doces, brinquedos, roupas, escovas de dentes, brincamos, demos carinho e fizemos o nº de teatro com palhaços e brindes.

Esses europeus não são como os ricos do Brasil que vêem essas coisas, se emocionam, dão um dinheirinho e pinicam fora. Aqui os caras vieram com um propósito sério de ajudar e não se escondem nem cedem a momentos de emoção. São fortaleza! E exemplo... Aprendi muito mais a doar depois que fiquei com essa gente. Eles tinham tudo pra estarem no conforto de seus lares na Europa, longe dessas atribulações afinal são todos ricos, bonitos, cultos, refinados, ouvem música clássica nas refeições, choraram com a morte do Pavarotti... Mas não, vieram ajudar os necessitados e não se importam em "pegar" nessas crianças que nunca tomaram um banho decente. Não fazem fusquinha nem cara de nojo, se entregam de verdade.

(...)

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Texto e foto: Silvana.
Fonte: Blog do Luis Nassif.
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