TARDES SERTANEJAS NO CENTRO CULTURAL JABAQUARA






Nas imediações da Estação Jabaquara do Metrô existe uma construção, milagrosamente preservada, que remonta a Era Colonial, aos tempos de uma São Paulo impensável nos dias de hoje:
o Sítio da Ressaca era um pouso de tropas localizado às margensw de um riacho. Com algum reforço imaginativo, podemos visualizá-lo como aprazível, escorrendo mansamente entre o arvoredo então existente. Hoje em dia, riacho há, porém, nele não escorre mansas águas e sim esgoto nas partes onde não foi encanado, consequência da urbanização acelerada e desorganizada que todos conhecemos.
A casa-sede do Sítio lá está, com suas paredes de taipa, os comodos com oratórios incrustrados nas paredes internas, o piso com lajotas de barro cozido, telhado restaurado, preservando algumas telhas originais.
Quem vinha da Borda do Campo, ali passava a noite e de manha seguia pela Estrada de Nossa Senhora da Conceição, ali pelos lados onde hoje em dia se localiza a estação de metrô de mesmo nome; logo mais abaixo pegava a “boiadeira”.
Nos princípios da década de 1970 a boiadeira seria a Rodovia dos Imigrantes: o destino comum: o litoral. A diferença é que a viagem que atualmente se percorre de carro em hora e meia ou menos, naqueles velhos tempos, em lombo de burro, era uma mini-odisséia com uma semana ou mais de duração, com direito a topar com algumas feras na descida da Serra. Indios hostís era muito improvável, pois essa região, devido a ausência de grandes cursos de água, onde as aldeias costumavam ser erguidas. Em tupi-guarani, yab-a-qvar significa mais ou menos "lugar ermo, lugar longe" e provavelmente essa deve ser a origem do topônimo "Jabaquara". Há, entretanto, controvérsias a respeito do significado, pois, o Jabaquara original seria o bairro de mesmo nome, já na Baixada Santista, de quem esse empresta o nome.

Pois o Sitio da Ressaca resistiu incólume a ação dos vândalos e mesmo à curta memória. Por muitos anos, o complexo que abriga o Centro Cultural, a Biblioteca Paulo Duarte e o Sítio da Ressaca, tombado pelo Patrimônio Histórico, ficou relegado ao abandono, até que de tempos para cá o desvelo e dedicação de abnegados funcionários trouxeram vida ao lugar: peças de teatro, apresentações de dança, bailes, tardes de choro e as Tardes Sertanejas, no terceiro domingo de cada mês. Neste dia 15 de agosto, a partir das 15:00 horas, violeiros vindos de diversas regiões da Grande São Paulo promovem uma animada roda que fazem vir a luz nossas raízes mais profundas: modas de viola, rasqueados, a pureza e ingenuidade de nossos cantos e ritmos, temperado ao talento dos violeiros. A partir das 15:00 horas, os trinados começam e as gentes se achegam: das ruas circunvizinhas, dos bairros próximos, das casas e prédios dos entornos afluem e se deliciam, acomodando-se nos amplos gramados, nos bancos sob as árvores frondosas. Meu cavalo, o garboso e mitológico Murzelo Alazão, O Rei dos Cavalos Brasileiros, desde há dias anda animado, relinchando de contentamento quando anunciei minha intenção de lá comparecer. Estaria o Murzelo Alazão feliz por apreciar a boa grama que por lá é abundante ou sua alma eqüina ainda vislumbras as muitas tropas que séculos atrás tracejaram os primeiros caminhos de Sampa?

Serviço: O Centro Cultural do Jabaquara está localizado a Rua Arsênio Tavolieri, nº 45, a cerca de 01 quilometro do Estação de Metro Jabaquara.
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