Não me recordo da notícia ter sido veiculada em nenhum dos grandes órgãos de imprensa, com exceção de uma nota no jornal O Estado de São Paulo e do jornalista Assis Ângelo ter comentado no seu programa na Radio Trianon. Dona Zica não era celebridade, nunca gostou de holofotes, dedicava-se á arte por puro e simples prazer. Contudo, sua obra, apesar de pequena em quantidade, foi muito importante: compôs cerca de 30 canções, felizmente registradas nos CDs Zezé Freitas canta Zica Bergami (1999) e Salada de Danças (2000) e como artista plástica fez inúmeros quadros de arte primitiva brasileira, pelos quais recebeu muitas medalhas no Brasil e no exterior. Não se compreende, portanto, o esquecimento da mídia nativa em torno dessa artista “pequena, mas grande demais”. Seu legado merece ser enaltecido pelo bem das gerações futuras.
A musica-ícone Lampião de Gás fala de uma São Paulo praticamente desaparecida, tomada pelo crescimento desenfreado, congestionamentos monstros, atropelada pela velocidade do chamado progresso. Contudo, o espírito da cidade hospitaleira é o mesmo, desde que acolheu os primeiros imigrantes italianos, espanhóis, japoneses, emigrantes nordestinos e do interior do estado. E o espírito de uma cidade jamais desaparece, sob pena de a própria cidade desaparecer; a cidade cantada por dona Zica prevalece e permanece, eterna.
Nascida em Ibitinga a 10 de agosto de 1913, Elisa (Zica) Campiotti, casada com o advogado Virgilio Bergami Filho, essa descendente de italianos que se mudou para São Paulo aos 08 meses, é um exemplo de amor e ternura pela cidade adotiva: mostrou ao mundo como é ser-tão paulistana...

