A
Virada Cultural na cidade de São Paulo será no fim de semana de cinco e
seis de maio. Mais de vinte e quatro horas de centenas de eventos
movimentando o velho e bom centrão. Revendo uma postagem do Joca Ramiro
em vésperas de uma Virada Cultural e já no aguardo ansioso da próxima.
Nesses dias que antecedem a Virada Cultural, num de meus passeios pelo centrão, vejo através das grades de ferro os Cines Marrocos e Paissandu, suas colunas de mármore branco, suntuosas como antigos palácios. Hoje parecem inutilizadas, empoeiradas, esquecidas e revivo saudoso os dias de glória em que assistia vários filmes num único fim de semana, encarando filas, algumas vezes sentando-me nas escadarias, entre as fileiras de poltronas.
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Na triste contrapartida dos dias atuais, as salas de cinema ficaram confinadas aos shopingues, a preços absurdos, inviáveis, sendo o cinema apenas um pretexto para a sanha consumista.. De quebra, a decoração cafona e o preço de um saco médio de pipoca custando o mesmo que uma refeição popular. Nos tais shopingues, as salas se amontoam, as exibições são em alta rotatividade e pensar em fazer do cinema um espaço saudável, é arriscar-se ao constrangimento, submeter-se a vigarice escrachada dos que tem a petulância de outorgarem-se “fazedores de cultura” ou que a mesma – cultura cinematográfica – seja um espaço para reflexão, além do necessário entretenimento. Existiria espaço para a esperança?
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Outro dia convidei meus filhos para assistirem comigo, em vídeo, o Cinema Paradiso, filme com a cara do final dos anos 80, quando o videocassete começava a reinar. Qual não foi minha surpresa quando ao final meu filho o recolocou a rodar, alegando que queria rever “algumas partes que não tinha compreendido muito bem”. Nesse ponto, pensei comigo que “nem tudo está perdido”, pois numa época em que predomina a ação desconcertante, não é comum um adolescente se interessar por uma fábula inocente do tipo Cinema Paradiso. Esse filme é um enigma que desconcerta certos críticos. Simplesmente é cativante. Perdi a conta de quantas vezes o assisti e provavelmente – graças ao milagre do acesso fácil ao DVD – o assistirei novamente. Não é um dos grandes filmes da história, acho eu; não é revolucionário, não é vanguarda. Não tem diálogos nem falas brilhantes tampouco cenas marcantes. O roteiro é extremamente simples, linear, previsível. Onde, portanto, o encanto? Nele, o cinema é o personagem central, idéia nem tão original, pois Truffault já o fizera em A Noite Americana.
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Em
Cinema Paradiso, o cinema enternece, de modo melancólico, mas não
aponta para um fim de linha: ao contrário, aponta que a emoção fraterna e
de certo modo “coletiva” é um caminho. O cinema não foi feito para ser
apreciado individualmente na solidão de nossas casas, onde podemos
apertar a tecla “pause” para atender ao telefone ou ir ao banheiro. Nas
cidadezinhas ou nos grandes centros, ir ao cinema é um acontecimento
social: a tela gigante, a reação do publico e as mil histórias paralelas
que transcorrem numa seção cinematográfica.
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Assim, existe a esperança de que o cinema retorne ao grande público, que sempre estará ávido de emoções genuínas. Que produtores, diretores, exibidores tornem o cinema o que ele foi um dia: um entretenimento das multidões.