SARAUS E NEM TUDO ESTÁ PERDIDO!

É de conhecimento geral a dificuldade que os artistas independentes tem para se apresentar para seu público e na mesma proporção a dificuldade do público em assistir bons espetáculos. A indústria cultural em país subdesenvolvido assume, assim, uma face perversa, submetendo-se ao mais descarado mercantilismo. (É duro ter de reconhecer, mas, infelizmente, somos, mesmo!, uma nação subdesenvolvida economicamente, que para a História, é o que conta).
Andando pela cidade, conversando ao pé de ouvido aqui e ali, num curioso tom conspirativo, vamos sabendo de uma velha prática, muito comum nos meios artísticos e poéticos de antanho: existem saraus por toda a cidade, com formatos variados, para todos os gostos, pois sarau pode ser poético/literário, teatral, musical e até culinário.
Saraus são uma prática universal e não é incomum que seja a porta de entrada no meio artístico e/ou intelectual. Mas não são apenas reuniões de amigos ou oportunidade para ilustres desconhecidos: as apresentações do poeta Dylan Thomas eram clássicas, cuja voz era um atrativo adicional, além de sua rara qualidade poético/literária; Kafka gostava de ler em público seus textos, provavelmente para sentir a reação do público ante seus temas.
No Brasil, os saraus nasceram com a vida urbana, desde os famosos chás poéticos para senhoras que mostravam para as amigas dons pianisticos e poéticos, até performances teatrais e de dança nas periferias. Quem não se lembra dos famosos encontros nos apartamentos do pessoal da Bossa Nova, encontros que reuniam João Gilberto, Nana Caymmi, e a então menina Nara Leão?
Nos tempos atuais os saraus estão por ai, por toda a parte. Mas não procurem na mídia, seja impressa, falada ou televisiva. Participantes de Saraus não fazem estardalhaços, não ficam gritando nas esquinas, não ficam nas portas das casas convocando os passantes, à maneira de certas igrejas ou dos poetas nas imediações do MASP à cata de um caminhante desprevenido, para abordar e assegurar a compra de sua última obra prima. Os participantes de saraus tem algo que lembram as confrarias ou sociedades secretas. Nos saraus ou voce é convidado de alguém ou presta atenção, fica assuntando, que a noticia chega até voce. E quando chega ao local, por vezes é uma porta fechada, discreta, onde só falta senha e contra senha para ser admitido.
Tem muitos saraus, por toda a cidade, mas quero mencionar dois: o famoso Sarau do Bar do Frango, do Tatau, que já existe a uns bons 15 anos, sempre no último domingo de cada mês e o Sarau dos Conversadores, sempre no último sábado de cada mês, no agradável ambiente da Livraria da Vila.
Cada Sarau tem sua característica, de acordo com a personalidade de seus freqüentadores e idealizadores, mas é possível circular por muitos deles, com igual desenvoltura: rara oportunidade, onde público e artista ficam tão próximos, quase a ponto de se confundirem e assim, desmistificados, humanizados!
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