OLY JR, VIOLA, MILONGA & BLUES

 

Há alguns anos tivemos em São Paulo um encontro, no Sesc Consolação, do bluesman Woody Mann, de Nova Iorque, e do violeiro Indio cachoeira, de Junqueirópolis, interior de São Paulo. Contava ainda com as presenças de Ricardo Vignini e Maria da Paz. Noite inesquecível, verdadeiro delírio onde desfilou pelo palco as silhuetas de Luiz Gonzaga e Vila-Lobos, entre outros. O blog Ser-Tão Paulistano estava lá e apelidou o evento de Capirablues. Era o inicio de uma curiosidade apaixonada que vislumbrava que a viola é muito mais que caipira. Por isso, gente importante como o mestre Jaime Além, prefere chamá-la de viola brasileira.



Quem abriu caminho para a redescoberta da viola caipira para o grande público no Rio Grande do Sul –  no contexto das últimas décadas, pelo menos - foi Valdir Verona, o violeiro natural de Caxias do Sul. Até então, nós, ouvintes e apreciadores comuns de um dos instrumentos mais queridos e consagrados pelo gosto popular, sempre pensamos que violeiro mesmo é do Sudeste e Nordeste. Do Sul, não se tinha notícias até então e Verona foi uma grata surpresa.

Era um equivoco, que foi esclarecido por Verona, violeiro e pesquisador. A viola caipira (ou viola brasileira) sempre foi de uso corrente e comum naquelas paragens, desde a chegada dos açorianos, mas de fato sua presença, especialmente nas comunidades mais isoladas da zona rural do extremo sul, remonta aos primeiro colonizadores, aos jesuítas e finalmente aos tropeiros, que a traziam na bagagem, para alegrar os raros momentos de descanso da dura labuta. Não podemos definir com exatidão a origem, mas podemos seguir seu desenvolvimento e trajetória

Há certo consenso em se afirmar que com a introdução do violão – por fins do século XIX - a viola caipira/brasileira, com sua doce e meiga sonoridade, foi sendo deixada de lado, até quase desaparecer - embora seu uso nunca tenha cessado de existir. Violeiros solitários e teimosos a praticavam e assim preservaram essa rica tradição. As razões que podem ter ajudado nessa preservação podem ser várias, fosse pelo natural isolamento ou  pela dificuldade de adquirir o moderno violão ou mesmo por fidelidade, pois existe uma certa mística em torno da relação da viola e do violeiro. O grande mestre violeiro do interior paulista, Gedeão da Viola, afirmava existir uma relação de amor entre viola e violeiro, devendo a viola ser tratada com carinho e respeito. Em suma, a viola tem personalidade, e o violeiro tem de respeitar ou não tira dela o melhor. São lendas – como a do famoso pacto, prática disseminada por muitos violeiros . Por outro lado, são deduções bastante plausíveis no sentido de compreender seu não desaparecimento entre as comunidades rurais, ao contrário da urbana viola de arame - que era praticada na Corte, especialmente acompanhando os famosos lundus, nada menos que a música praticada pelos escravos, porém, “domesticada”, almofadada para os ouvidos renóis. A viola de arame, está sim, desaparecida, sendo hoje praticada em círculos restritos. O grupo gaúcho Os Tápes, descoberto por Marcus Pereira, que fez muito sucesso na década de 1970, usavam viola entre seus instrumentos.



É provável que no Sul extremo tenha sido preservada por outras razões, que desconhecemos, levando-se em conta a natureza da sociedade e a própria geografia: o Rio Grande,  tem especificidades muito próprias, tal como visto no filme “A Linha Fria do Horizonte”, que trata do “isolamento”e distanciamento do Sul da faixa Rio/Paulo ou mesmo da cultura nordestina, por óbvias razões. Os gaúchos, via Vitor Ramil (o caçula dos irmãos Ramil) criaram a expressão “estética do frio”, opondo-se ao  resto do país ensolarado. A expressão, salvo engano, foi  usada pela primeira vez no disco “Ramilonga – A Estética do Frio, quinto disco de Vitor.

A viola tocada no Sul, ao menos no passado, é diferente da executada no interior de São Paulo, Minas, litoral de São Paulo e Paraná etc, de modo que não temos idéia de seu uso.  Os Tápes parecem indicar o uso corriqueiro da viola, especialmente nas comunidades rurais isoladas. Embora existisse nesses grupos, não existia a figura do violeiro – ao menos da maneira como os conhecemos, nós cá, do Sudeste. Provavelmente seria semelhante ao uso da viola-de-cocho pantaneira, instrumento de acompanhamento, de limitados recursos – 5 cordas de tripa de macaco e um “braço” curtísimo, onde mal cabe a mão. (A viola de cocho foi trazida para um contexto urbano pelo gaúcho Zé Gomes, na lendária Comitiva Esperança, ao Pantanal, com Almir Sater, Paulo Simões e Geraldo Espíndola, em 1985. Zé Gomes trabalharia no instrumento por 10 anos, que resultou no antológico disco “Palavras Querem Dizer”, de 1995. Zé Gomes, entretanto, deu nova função ao instrumento, com ecos medievais e barrocos, líricos . Hoje em dia é regularmente praticada por grandes violeiros. A viola de cocho, entretanto, é um capitulo a parte na história das violas).

Voltemos à viola caipira e um pouco da história milagrosa de sua sobrevivência. Uma das razões para isso, a exemplo de outros lugares do país, é que ela tem importância não apenas como instrumento musical, mas como elemento cultural, como o são os atabaques, pandeirões, berimbau, cantos de trabalho, aboios, etc. Guardadas as proporções, arrisco-me a pensar que a viola poderia ser, em alguns círculos, objeto de culto. Não de ordem religiosa, mas lúdica, uma espécie de brinquedo para crianças e adultos, a exemplo da rabeca no interior do nordeste ou em toda extensão litorânea.

Em 2015, Valdir Verona, junto a outros três companheiros violeiros, formaram o grupo Violas do Sul. São  4 violeiros de distintas regiões do Rio Grande, a saber: Valdir Verona, Caxias do Sul; Oly Jr., de Porto Alegre; Mario Tressoldi, do litoral e Angelo Primon, também de Porto Alegre, multi-instrumentista, focado no resgate das origens mouro-ibéricas. Seu trabalho é verdadeira imersão histórica nessa busca. Os quatro juntos efetuam um resgate da socialização que a musica sempre  realiza entre as pessoas, remontando tempos arcaicos quando as caravanas se reuniam nas noites dos desertos do Oriente Médio e mesmo sem falar o mesmo idioma, se comunicavam através da música. Por trás de cada acorde temos a impressão de ver os fantasmas dos menestréis de outrora, cantando em versos os romances  -  em alguns círculos grafado como rimance. Na literatura medieval portuguesa podemos encontrar esses personagens em abundância.



Violas ao Sul é um feliz encontro de interesses aparentemente díspares – são de regiões diferentes -,  mas cada qual mantendo integra sua identidade. Cada um traz recortes bastante específicos das diferentes  cenas  riograndenses. Os improvisos arrojados  surpreendem, mas a surpresa maior vem da viola, de sua versatilidade. Há tempos atravessou  a fronteira do mundo rural e avança mundo afora, trilhando novos caminhos, mas  sem esquecer a morada primeira.

Ela, a viola, ao longo do tempo foi se modificando até chegar a forma atual. Aparentemente, em cada cultura por onde transita, flexível que é, absorve elementos e se refaz, tendo, assim, se tornado cítara, alaúde, vilhuela, guitarra barroca, tiorba italiana, viola braguesa, viola de cocho,   oud árabe, dezenas de variações. Inclua-se nesse rol a cabacítara, dentre as variações da “viola de cabaça,  atualmente trabalhada  pelo luthier e violeiro paulista, Levi Ramiro. Levi, aliás, toma o cuidado de alertar que a “viola de cabaça”, de onde veio a cabacítara, é de origem popular, de domínio publico. Ele apenas a recolocou na história. Prova inconteste da  imensa riqueza criativa que ao longo de séculos alegra as noites interioranas e hoje em dia se exibe orgulhosa nas salas de concerto, com  seu timbre suave e doce.



A abertura  ao improviso , com toques jazzísticos, é uma importante e surpreendente chave  para compreender sua enorme capacidade de adaptação, desde os repentes nordestinos, modas-de-viola, toadas, etc. A viola, portanto, emoldura com propriedade os estilos citados e também sagas, romances, danças (catira) e até mesmo pode ser usada na musica minimalista, experiência conduzida pela violeira francesa Fabienne Magnant. (Fabienne, a propósito, já se apresentou algumas vezes no Brasil - em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Seus instrumentos: violão clássico, violão flamengo e viola caipïra, grafado assim mesmo, com trema no “i”. Vale observar que ela levou a viola caipira para sua música, processo semelhante ao que fez Zé Gomes com a viola-de-cocho,quando a trouxe do Pantanal para os palcos paulistanos).





Os elementos culturais estão profundamente enraizados. Existem mil histórias atrás da música que nos encanta. No passado, a musica acalentava a necessária solidariedade e confiança mútua, vitais para a sobrevivência de grupos isolados. Por mais que as sociedades se transformem, o essencial, permanece latente nas camadas ocultas no imaginário típico do gaúcho. Pode se dizer o mesmo do caipira paulista, do fandangueiro do litoral, do nordestino, etc. Nessas sociedades cultivadoras da viola, durante os anos de esquecimento nunca deixou de ser utilizada. Na vertdade, estava à espera da oportunidade para o ressurgimento, vindo novamente juntar-se à guitarra,  à gaita ponto, à orquestra sinfônica. É a viola correndo trecho...

 

OLY JR E A MILONGA BLUES



O termo milonga blues  é, em si mesmo, uma ousadia inédita - até onde sei. Não que a milonga não fosse conhecida além do contexto rural. O termo, a principio de conotação pejorativa, já foi utilizado em peças eruditas. Tom Jobim o utilizou para compor a trilha sonoro de O Tempo e o Vento, a série televisiva baseada em Érico Veríssimo. Vide também o revolucionário “Ramilonga – a Estética do Frio”, de Vitor Ramil. O mesmo se deu com o blues, muito antes, quando Muddy Waters, John Lee Rooker, Big Bill Broonzy e todos aqueles caras saíram da região do Mississipi na direção da cidade, aportando em Chicago, onde a maioria optou por encorpar seu som com guitarras elétricas, formando grupos. O bluseiro deixava, então, de ser o solitário com seu violão acústico nas costas. Milonga blues é blues cantado em português com ares de milonga, o estilo pampeano.

(Ou seria milonga cantada com ares de blues?)  O próprio Oly Jr. reconhece que teve como sua primeira escola o blues. Sendo assim, não está errado dizer que sua música pode ser blues enriquecido com elementos de milonga. De verdade, existe uma simbiose clara, assim que o ouvimos cantar e tocar. É uma ousadia, pois poderia facilmente embrenhar-se em algo que poderia ser imitação ou paródia. O fato é que juntou dois estilos com raízes profundas na tradição e na história, portanto, universais, os amalgamou, e fundou um novo gênero, sem deturpar nenhum dos dois.

 A música de Oly Jr. é a trilha sonora perfeita para um Road movie, os filmes de estrada. O cenário já está montado, o personagem está lá, caso raro em que basta o roteirista seguir as pistas, alguém gritar “luz câmera ação!” e pronto! Ideias na cabeça não haverão de faltar. Drama, paródia, humor, tudo se desdobra a partir a partir de sua música. Alguém consegue imaginar o que seja “Do Delta do Jacuí ao Deserto do Atacama”?  Os “clips” de seus discos dispensam as imagens, basta ouvir e cada um cria como bem entender, à maneira dos bons livros.

Convenhamos que um gaúcho tocando viola caipira e cantando algo chamado milonga blues não é algo corriqueiro. Mas Oly deve ser ouvido não apenas por curiosidade. Ele é alguém, artista e homem, que se encontra literalmente  numa encruzilhada de caminhos.

Quem o vê pelas ruas, seja de Porto Alegre, São Paulo ou Nova Iorque, não tem como errar: eis um gaúcho, da mesma forma que Atahualpa Yupanqui dizia que tocava sua musica de modo a que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, que visse e ouvisse, concluísse: “eis um argentino”.  Quem avista Oly, sabe: eis um gaúcho. Mas não é o gaúcho da estância; não é o bagual, que  “...tem orgulho em ser grosso e debocha da finura” como diz o clássico de Barbosa Lessa, eternizado na voz e violão de Noel Guarani. Ele é o que deixou de ser bagual; não é aquele que orgulhosamente veste a pilcha, a indumentária típica do habitante da pampa; não é a figura bravia e solitária do gaúcho esculpido e talhado pelo minuano,  o vento solar que nasce no coração do pólo e castiga a planície.



Na adolescência, habituou-se a freqüentar os sebos de Porto Alegre, fascinado por uma musica vinda do outro extremo da América, a do Norte. O piá da cidade descobriu velhos discos de Muddy Walters, Robert Johnson, B.B. King, Howlin Wolf, possivelmente Lithning Hopkins, Mississipi John Hurt, e outros e se encantou com eles. Seu espírito inquieto foi o veículo ideal para acomodar e combinar duas tradições absolutamente distintas: a música tradicional do Sul dos EUA e da pampa sulamericana,  a milonga e o blues.

Howlin Wolf

Robert Johnson

Muddy Waters

Oly Jr. é um gaúcho urbano cuja identidade cultural agrega elementos tradicionais, mas sem se render à fórmulas fáceis. Busca nas origens como quem busca a verdade de si e de sua gente. Sua relação com o blues é um tipo de afinidade eletiva feita de sonoridades. Na imaginária encruzilhada, todos os caminhos se abrem e ao mesmo tempo convidam: guitarra acústica e elétrica, viola caipira e harmônica o tornam herdeiro de várias tradições, sem abdicar do tronco gauchesco. Como diria o violeiro Gedeão da Viola, a violinha caipira fica contente em suas mãos. Sobreira, resiste feliz.

O encontro da milonga e do blues, tão entranhados em seu espírito, é desses mistérios indecifráveis que a cultura opera nos corações e mentes. Como juntar dois estilos, separados por enormes distâncias, social, temporal e espacial? O blues e a milonga, que se juntam em seu espírito são aspectos de sua natureza, ecos da planície pampeana , assim como o genuíno sentimento nostálgico, evocados para superar a dureza do trabalho nas fazendas de algodão do velho Mississipi. Blues e milonga são evocações melancólicas, nostálgicas, universais e a África é uma herança comum. O que parte disso são variações: espirituals, gospel, baguala, rock, assim mesmo, junto e misturado. É nesse mundo que navega Oly  Martins Jardim Júnior. Sua música de fortes notas dilaceradas, é um convite para conhecer esse mundo, sem retoques!

A origem  africana comum reflete semelhanças da música rural do Sul dos EUA e do interior do extremo Sul do continente americano. Cadências parecidas, simples na aparência, complexas no detalhe, pois sua matéria prima é a delicada carnadura do sentimento. O bluseiro e o milongueiro jamais se encontraram, mas tem algo em comum: no blues e na milonga violão e homem são uma coisa só; uma invisível ponte é tracejada entre o Guaíba e o Mississipi. Oly deve ter sido o primeiro a perceber que blues e milonga são gêmeos separados no nascimento, há muito, muito tempo atrás, em diferentes  pontos do continente africano.

Em Oly,  blues e milonga, transitam livremente. Blues e milonga fazem parte de sua formação musical: a tradição gaúcha se aproxima dos velhos mestres da canção rural norte americana. Em qualquer deles, ele se sente a vontade, qualquer deles lhe fala diretamente à alma: a milonga e seu percorrer monótono pelos campos  da pampa; o blues e o cantar sofrido dos trabalhadores das plantações de algodão. Ambas chegam a cidades diferentes,à Chicago, à Porto Alegre. Comum aos dois estilos, agruras da vida, a presença da mulher, a saudade, a sobrevivência, etc.

O blues e a milonga igualmente tem em comum a mítica figura do andarilho, do caminhante solitário, figura que desde a Idade Média povoa o imaginário de todas as gentes.

 


A AFRICA E O FUTURO DA MÚSICA

O continente africano é tão rico musicalmente que não tenho dúvidas de que nos séculos seguintes, quando a chamada música erudita (termo que não significa absolutamente nada, apenas um rótulo comercial) fechar o arco de seu desenvolvimento – ou seja, se esgotar - provavelmente a criatividade musical virá da Africa.  O professor José Miguel Wisnik informa em sua obra O Som e o Sentido, que certas escalas musicais dos pigmeus de determinada região são tão complexas quanto  a musica de Bach, o gênio que congregou em si toda a música. Uma provocação, a conferir.

Por ora, ficamos com a evidência bem ao nosso alcance nos dias de hoje: troncos musicais do continente africano que são referências para, pelo menos, três estilos: o blues, o samba e a milonga, sem contar os desdobramentos e variações.

 



Abaixo, uma interessante entrevista. Se houver dificuldade com o link, basta digitar no Google: “entrevista com Oly Jr e como a milonga encontrou o blues”.

http://culturissima.com.br/especial/entrevista-oly-jr-e-como-a-milonga-encontrou-o-blues/

Oly Jr. tem uma vasta discografia e no seu caso, considere-se quantidade e ualidade. O homem é uma usina de criação e sua presença no cenário musical com vários parceiros é, por si, motivo para conhecer e aprofundar-se no seu trabalho. Torcemos para que que faça uma temporada por essas bandas. Vamos encurtar distâncias!

Dentre suas parcerias, destacamos multiinstrumentista Gaspo Harmônica e o gaitista Gonzalo Araya, além de Julio Reny e os violeiros do Violas ao Sul (Verona, Mario Tressoldi e Angelo Primon).

Abaixo, sua discografia. Não incluímos suas participações avulsas

 

2001 – Mendigos da Noite – MENDIGOS DA NOITE

 2003 – Oly Jr. – TÔ NA MIRA

 2005 – Oly Jr. – INEDITISMO BARATO

2005 – Gaspo Harmonica & Oly Jr. – NA CAPA DA GAITA

2007 – Gaspo Harmica  & Oly Jr. – ONDE ESTÁ O MEU DINHEIRO

2007 – Oly Jr. – ALGUMAS CANÇÕES

 2008 – Oly Jr. – PIRATARIA AUTORIZADA

2009 – Oly Jr. – MILONGA BLUES

2012 – Oly  Jr. – MILONGA EM BLUE (NOTAS DO DELTA)

2013 – Oly Jr. & Gonzalo Araya – DO DELTA DO JACUÍ AO DESERTO DO ATACAMA

2014 – Oly Jr. - DEDO DE VIDRO

2016 – Oly Jr. - VIOLA DE REVESGUEIO

2018 - Violas ao Sul - VIOLAS AO SUL

 

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