AGENDA DO SER-TÃO: GRAZZI NERVEGMA e LUMA AIUB NO TEATRO DA ROTINA

O Teatro da Rotina, lugar charmoso e aconchegante, é a cara de São Paulo, uma suas “perfeitas traduções”, lembrando os versos de Caetano Veloso. Para saber mais, atentem ao link  https://www.teatrodarotina.org/novo-tr. Está tudo lá, sua história.

 Um lugar que aguça nossa curiosidade a partir do momento em que o adentramos e causa a impressão de mergulhar nos tempos a bordo de uma capsula. Sua atmosfera atemporal pode ser o passado ou futuro. Podemos nos imaginar num laboratório alquímico ou uma biblioteca repleta de manuscritos em papiros ou tabuinhas de argila com inscrições cuneiformes! É como se transitássemos pelos cenários dos filmes “Limite”, de Mario Peixoto ou “Asas do Desejo”, de Wim Wenders. No tranquilo silêncio, vemos que das ruínas de uma hecatombe brota uma arte de vanguarda, perene de esperança, representa um ponto de partida para retomarmos a vida depois das catástrofes – dentre elas, a pandemia. Naquele ambiente permeado de cordialidade e olhares brilhantes de curiosidade, não é o caso de fechar os olhos e nos deixar levar; é aconselhável abri-los e apurar os ouvidos e não perder nada da Música, Teatro e Poesia em cena, logo a seguir inundará nossos sentidos.


 UNA: COM A PALAVRA E AÇÃO,  ELAS:

 Esse lugar fervilhante de evocações mágicas é um espaço ideal para acontecer o espetáculo UNA, com as jóias de nossa arte, Grazi Nervegna e Luma Aiub, mais a pianista Viviane Roque, produção musical de Andrea Leoncini.

 


De Grazzi, poeta, cantora, compositora, já escremos sobre ela neste blog sertão paulistano (http://www.sertaopaulistano.com.br/2018/12/grazi-nervegna-estrela-nascente-da-mpb.html). Seu CD de estréia, Anambé, ousado e corajoso pavimenta firmemente o caminho de nossa identidade cultural, juntando elementos afros-indigenas-europeus. Tenho a impressão que Grazi se preparou a vida inteira para tomar seu caminho e não pretende recuar na consecução de seus ideais, quaisquer sejam;


 

Luma Aiub é daquelas artistas que cresce em cena. Chega discreta e vai firmando pé, emergindo lentamente e quando nos damos conta, sua voz intensa nos arrebata, envolvente. A experiência como atriz lhe favorece a incrível virtude de transportar o espectador/ouvinte aos cenários que descreve com sua voz tomada de ondulações perenes, calorosas.


 

Enfim, o palco, o tablado onde elas, mulheres, levarão em cena suas próprias experiências artísticas e de vida. São muitas suas parceiras, mundo afora, pois como mulheres, estão unidas sincronicamente nas inúmeras lutas: na rua, no trabalho, na sociedade, em casa, etc.

 

Luma Aiub e Grazi Nervegna além do talento ímpar, possuem a marca da imprevisibilidade, tornando cada instante de atuação, único. Inovam, mas com respeito às origens e a inteligência do público.

O que é o artista se não porta-voz de seu tempo? Reflete, através da arte as ansiedades,  dores, sentimentos e esperanças de seu povo. Por isso sua atuação precisa ir além do talento: é preciso vontade de arte e verdade - parafraseando o título de uma recém biografia do cantor e compositor português José Afonso: “Uma Vontade de Música”. Resistir às procelas, as tentações dos caminhos fáceis. Mais do que em qualquer outro momento, a arte delicada e contundente das meninas do UNA, se faz necessária!

 

Em UNA, a presença feminina protagoniza. Não são “guerreiras” segundo o ideal bélico que o termo carrega.

Como num processo alquímico, ao longo dos tempos, a mulher retrabalha todo o material guardado ao longo dos tempos – emoções, desejos, paixões, sonhos (expressões retiradas do material de divulgação) – a custa da opressão secular e como só as mulheres o sabem fazê-lo, expressam através da Palavra, seja cantada, declamada. Ou simplesmente sugeridas pelas presenças corporificadas em cena, o corpo como elemento narrativo – quem tem ouvidos ouça, quem tem olhos veja!

Nas múltiplas  narrativas, detecta-se (ou revela-se) as muitas experiências vividas por todas as mulheres, através da uma ancestralidade comum e especialmente nos momentos críticos que vivemos – quando a humanidade finalmente se deu conta da finitude de coisas que se julgava inesgotável. Só mesmo a empatia tão característica das mulheres para nos fazer compreender “as urgências do corpo de Gaia”, não por acaso a Mãe ancestral de tudo, da Terra e de tudo o que nela existe.

Em UNA as mulheres soltam sua voz libertária, “unidas pelo desejo de não mais se calarem” (outra feliz expressão colhida do rico material de divulgação). Elas, as mulheres, que nunca deveriam ter se calado, aqui se fazem ouvir delicada e vigorosamente por Grazi e Luma e Viviane e Andrea e todas!

 

 
 

 

 

.SERVIÇO:

O Teatro da Rotina está em nova casa, na Rua Simão Alvares, 697, Pinheiros.

 

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