TOP DEZ DO SER-TÃO PAULISTANO, 2022

2022  foi um ano de lutas e esperança. Nós, brasileiros, provamos – mais uma vez!  - nossa força e nossa leveza, no modo como podemos ser capazes de reagir com suavidades os desafios frente as intempéries. Como diz na música de Sergio Godinho interpretada pelo eterno Dércio Marques: Que Força É Essa, instintiva e poderosa, que nos atira para a frente?

 Nós, do Ser-Tão Paulistano, ao final de ano, também fazemos balanços, avaliações e eleições dos melhores do ano, destacando as figuras mais representativas nas artes, nos esportes, nas ciências, na vida social, etc.

Seguindo a tradição de divulgar  quem não tem espaço na grande mídia, nossa “seleção” procura destacar entidades ou personalidades que de alguma forma fizeram e fazem algo de positivo em prol da imensa comunidade que é a cidade de São Paulo. Não fizemos a seleção em 2020 e 2021, guardando respeitoso silêncio por todo o sofrimento que o Brasil e o mundo tiveram por conta da pandemia do Covid-19. Porém, em 2022, ano de luta e esperança, finalmente liberamos o grito preso na garganta!

 


 “Ser Tão Paulistano” é um privilégio e um jeito especial de ser. Faz parte de nossa índole desde os primórdios de nossa formação histórica independente de quaisquer critérios como política, raça ou religião; nossa “seleção dos melhores” não evoca disputas, é puramente simbólica. É uma abordagem afetiva e de reconhecimento pelo que alguém faz de especial; e justamente por isso desvinculada de hierarquias: todos os  inclusos no TOP DEZ tem igual valor. O primeiro mencionado pode ser o décimo e vice versa, a ordem é aleatória. Se representássemos graficamente, seria uma ordem circular; dez figuras, individuais ou coletivas, famosas ou não, que tenham realizado algo representativo e importante no geral e/ou no particular, reprodutores de atitudes ou ações que contribuem para um mundo melhor, belo e solidário, reconhecimento por aqueles que resistem e insistem em tornar nossa cidade mais humana e acolhedora. Isto é ser-tão paulistano.

 Em 2022, destacamos os seguintes trabalhos e personalidades:

 

Cantigas de Andar”, do botucatuense Osni Ribeiro. Fruto da grande árvore “Dandô”, plantada e cuidadosamente cultivada por Kátya Teixeira com o propósito de agregar e difundir música e cultura brasileira. O trabalho de Osni parece ter sido feito sob medida para o movimento: são andanças pelo Brasil, arreunindo parcerias em cada canto por onde aportava. Com a palavra, o próprio moço de Botucatu, em entrevista à Mercedes Cumaru:

É a música caipira, regional, que nos dá a oportunidade de sabermos quem somos e de onde viemos. Cuidar das raízes, sempre, mas sem perder de vista os brotos, flores e frutos, naturais do cultivar, inerentes à dinâmica da cultura”.


 

 “Ser (tão) Infinito”, do mineiro Wilson Dias.  Esse título até parece uma parceria com o blog. Mas o ser(tão) aqui re-criado por Wilson é o sertão do Rosa, infinito, inalcançável em horizontes e profundidades. Sertão bravio e mítico, como o mar: está ao nosso redor e dentro de nós; sertão de memórias e de imaginários, amorosamente descrito por um cronista da terra. São registros “...de um tempo anterior à escrita” conforme escreve Ivan Vilela, no encarte.


 

O livro de “Partituras e Tablaturas de Júlio Santin” é um presente do violeiro natural de Irapurú, pequena cidade do Pontal do Paranapanema, para todos nós. Reúne as partituras de seus dois primeiros discos, “Sentimento Matuto” e “Capim Dourado”, consagrados para a eternidade  um depositário fiel e confiável da música instrumental da região do Pontal: daqui a centenas de anos quando os músicos e historiadores haverão de tomar nas mãos esse trabalho que retrata fielmente o seu tempo e a música a esse tempo correspondente, monumento desde já erguido.


 

As Mamelucas” foi uma série de shows juntando cantoras de gerações diferentes e influências recíprocas. Imaginem num mesmo palco Déa Trancoso, Cátia de França e Consuelo de Paula. Pensem num sonho e esse sonho se tornou verdade: a celebração da música brasileira através dessas irrequietas artistas. Um encontro ímpar que esperamos possa se repetir e – porque não? – ser eternizado em disco e/ou DVD. Cantoras de corpo e alma, ninguém ficou indiferente a esse raio de luminosidade que nos visitou em 2022: As Mamelucas!

 


Canções Para Atravessar a Noite Escura”, de Kátya Teixeira. E com o entusiasmo vibrante da filha de Chico Teixeira, não há noite escura que resista! Assim que empunhou seus instrumentos e soltou sua voz ao mesmo tempo forte e delicada, a escuridão que nos ameaçava tratou de se preparar para cair fora! Pois seus dias, ou melhor, suas noites estavam contadas, pois era a Luz da Mulher-Estrela Katchêrê quem apontava em plenitude. E com arsenal formidável: álbum duplo e livro. Cantos de Acalanto e cantos de guerra cumpriram sua função, auxiliados por instrumentos que contam nossa trajetória musical desde nossa ancestralidade até os presentes dias: flautas indígenas, caja coplera argentina, viola-de-cocho, viola-de-cabaça, charango, guitarrón uruguaio, violão requinto e tercino, guitarra transpuesta, etc.

 


Por Onde Vamos”, segundo trabalho do gaúcho radicado em Minas Gerais, Giancarlo Borba. Ele pertence à rara estirpe dos artistas militantes que fazem e vivem as histórias das lutas populares. Giancarlo não é somente autor e poeta das causas, ele se envolve diretamente, “sente” a pulsação da gente do povo, sem jamais perder a ternura!

 


UNA”, com Grazzi Nervegna e Luma Aiub. Estrearam o UNA no Teatro da Rotina, em Pinheiros, estenderam para o famoso Bar do Franco, do Tatau. Um espetáculo à flor da pele, mantendo quem assistiu atento e vigilante todo o tempo. A voz corajosa de Grazzi, o canto sensível de Luma, tudo pontuado pelo piano de Viviane Roque. No comando, Mulheres que levam à cena do palco o brotar vivo das lutas artísticas e de vida. Na rua, no trabalho, em casa. Um espetáculo permanentemente aberto, e por isso, imprevisível. Representam multidões de mulheres de todas as épocas, mulheres que retrabalham o sensível material guardado ao longo do Tempo: emoções, desejos, paixões, sonhos. Como só as mulheres o sabem fazer, expressam através da Palavra, seja cantada, declamada.


 

Moda de Rock Brasil”, com Ricardo Vignini e Zé Helder. Os discos da série “moda de rock” são verdadeiras odes à viola caipira, um instrumento que poderia com justiça ser considerado símbolo do Brasil profundo. Se foi feito certa vez o caminho do rock para a musica caipira, através da banda “Matuto Moderno”, agora é o inverso: da viola, delicado instrumento, para o rock, rompendo barreiras e provando que, a exemplo dos sonhos, a música transita livre no espírito humano. Depois de vários discos dedicados aos ícones do rock, invertem o sentido da caminhada e levam no embornal esse incrível trabalho destacando ícones do rock nacional como Zeca baleiro, Edgard Scandurra, Raul Seixas, etc.

 


Concerto Sentido”, com Deo Lopes e Victor Mendes. Um encontro pra dar o que falar e cantar. Deo, que marcou época na época do teatro Lira Paulistana; Victor, frequentador habitual dos Saraus do Paulo Nunes, no Instituto Juca de Cultura. Talentos puros. Os dois juntos harmonizam tradição, atualizam mensagens e arranjos. “Concerto Sentido” é a depuração de múltiplas influências colhidas ao longo da trajetória de ambos empreendendo viagens musicais, experimentando ares folk, barroco, ensejando nesse (re)encontro, novas esperanças. (Chama a atenção, como clarões em noite escura, os arranjos primorosos.)

 

Casa Ipiranga22” é um discreto e agradável ponto de encontro numa discreta esquina da Rua Paulo Bregaro, do histórico bairro do Ipiranga, próximo ao importante Museu de mesmo nome. Amantes da boa literatura e da boa música lá encontram referências impactantes, pois as dependências da Casa22 sempre acolhem atrações musicais, rodas de leitura, lançamentos de livros.

Diz a lenda que o atual proprietário é descendente direto do Conde Azevedo, que na época imperial prendia e mandava soltar, mandachuva que era. A “Casa” é um lugar meio mágico, disfarçada de restaurante, pois na verdade é um centro difusor da melhor tradição paulistana. Durante o período da pandemia, nunca deixou de atender à fiel clientela e nem dispensou funcionários, mostrando que certos valores humanos são inalienáveis. Do impecável cardápio destaca-se o pernil assado ao vinho e a famosa feijoada imperial, feita com o melhores porcos dos melhores chiqueiros do Reino brasileiro.

 


Ficamos por aqui com nossas singelas homenagens e muitos nomes e eventos deveriam também aqui constar, mas o tempo e espaço são exíguos para a enorme quantidade de talento e valores de que nossa gente é capaz. Por exemplo, destacamos a comemoração dos 20 anos do “Movimento Violão”, idealizado por Paulo Martelli, no Sesc Santana;

 

Merece destaque a presença e o trabalho de Mercedes Cumaru, para o site Grande ABC Cultural;

 

O grande encontro “Homenagem à Moda Caipira, em 20 e 21 de agosto, juntando em nesses dois dias Bruno Sanchez, Claudio Lacerda, Osni Ribeiro, Ricardo Vignini, Luiz Salgado, Rodrigo Zanc, Wilson Teixeira e Zeca Collares;

 

E que dizer do Atiarú, shows a Base de Cordas e Percussão, com a mineira Consuelo de Paula!

 

Teve mais, muito mais!

Olêêê! 2023 promete mais! Viva! E o fascismo foi esconjurado! Viva!

 

 

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