TRIBUTO A OSWALDINHO VIANA

 

 

Ainda não foram inventadas palavras capazes de definir a grandeza de Oswaldinho Viana.

Ao lado de Marisa, companheira de vida, de luta, de ofício, foi personagem ativo na cultura paulistana (e paulista). Ele foi daqueles que manejavam com maestria o fazer artístico, harmoniosamente inserido na vida da cidade e dos seus habitantes (vide o disco da dupla em homenagem ao legendário Elpidio dos Santos. Quem ouve tem a nítida sensação de que Elpidio continua entre nós, ou seja, um compositor esquecido, mas atual).

Embora não fizesse parte (por opção própria) do seleto grupo das estrelas cintilantes da chamada MPB, Oswaldinho sempre brilhou. Se não era, como atrás mencionado, uma estrela fulgurante, do tipo “vaca sagrada”, daqueles que vivem cercados por dezenas de produtores a separá-los do público. Contudo, igualmente brilhava de modo impagável, perene. (Como artista, tinha uma curiosa aura nostálgica, de mansidão e simplicidade, como cabe a um nativo da pequena São Sebastião do Tijuco Preto, que teve o nome mudado para Piraju).

De Oswaldinho, pode se dizer sem medo de errar que estava sempre ao lado do povo, sem nenhum ranço de demagogia ou concessão comercial de qualquer ordem; estava ao lado do povão e o povão sempre estava a seu lado – entendendo “povão” como sendo a discreta multidão que se interessa por arte e cultura genuína, que enxergavam nele um representante autêntico.

 


 A atuação do casal Viana no sentido de produzir e dar voz ao que fosse autêntico sempre pautou pela ternura, porém, com firmeza e rigor: refutavam o sucesso fácil e comercial de agrado do “mercado”. Foi assim que os lendários Café Fubá e  Armazem Bar. A mesma linha de fidelidade seguiu com o Almoço na Roça e o mais recente e último projeto da dupla: Quintal dos Viana, onde o seleto e felizardo público era literalmente convidado ao quintal do simpático casarão, na City Lapa, para apreciar a arte de grandes nomes da MPB ao sabor de bebidas e comidas bem brasileiras. Cada show, um deleite! Saíamos de lá de alma renovada e barriga cheia, a  melhor música e a melhor culinária! Precisa mais? Mas esse último projeto foi interrompido pelo agravamento de seu estado saúde, que terminou por nos privar de sua presença iluminada no último 23 de abril.

Oswaldinho Viana foi uma rara unanimidade entre quem o conheceu. Sua casa estava sempre aberta aos amigos artistas, foram responsáveis pelos primeiros passos da carreira de muita gente. Não menciono aqui pelo receio de esquecer alguém importante...


 

Na próxima segunda-feira, 19 de maio, no novo Teatro da Rotina, à Rua Simão Alvares, 697, Pinheiros, haverá um espetáculo Tributo, com artistas que alegremente fizeram parte da vida do grande Oswaldinho, como Carlos Careqa, Consuelo de Paula, Chico Cesar, Filó Machado, Dani Lasálvia, Jean Garfunkel, Jica y Turcão, Lula Barbosa, Miltinho Edilberto, Renato Coda, Renato Teixeira, Tetê Espíndola, Zé Geraldo,  e outros. Os ingressos foram esgotados em poucas horas, sinal da grandeza e respeito que seu público fiel sempre teve. Vamos torcer para que haja continuidade, que tenha outros shows. É a melhor homenagem que podemos prestar a quem fez de sua vida um ideal de fraternidade, integridade, sinceridade, amizade e respeito por nossa cultura musical, um dos aspectos de nossa alma imortal, pois nunca é demais repetir que povo sem cultura está condenado a jamais ser verdadeiramente livre.

Sua passagem por esta vida de lutas e alegrias fez o mundo um pouco melhor. Valeu a pena!


 

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