
Em outros tempos, até mais ou menos uns dois anos atrás, talvez eu não me importasse tanto, ou talvez eu não batesse tanto o pé assim, por conta de um café da manhã (e às cinco da matina), só porque ele seria regional demais e, por isso mesmo, bão demais. Eu nasci em São Paulo, na capital, como minha mãe, meu pai, minhas avós. Em tempos de menina eu ia pro mato só vez ou outra, naquele sítio do amigo do meu pai, ou do amigo do amigo. Por minha mãe moraríamos na Av. Paulista, esquina com a Consolação, ou com qualquer outra esquina concreta, boêmia. Além da boemia, meu pai prefere a praia e eu, escritora que sempre quis ser, sempre amarguei uma saudade de morar num campo que nunca vi, só ouvi falar, por conta de Chico Bento ou outro personagem caipira qualquer. Acho que esta minha saudade das campinas que nunca vi se deve ao fato de eu querer andar mais devagar, ver o tempo parar, olhar para o céu, contar as estrelas. Mas eu, que nasci na cidade grande, não tenho hábito de olhar para o céu, deixando este momento para as raras vezes que alguém me diz: você viu a lua hoje? Tão bonita!, que é quando eu me dou conta de que eu, escritora que sempre quis ser, sempre amarguei uma saudade de morar num campo que nunca vi, tomar aquele café da manhã que nunca tomei.
