Quase hora da festa, a parte mais gostosa: tomar banho, dividir as tranças e prender umas fitas coloridas, um batom vermelho e um pó nas bochechas. A saia azul ficou recheada de bandeirinhas coloridas - imitavam um arraial -, que passei a semana fazendo. Pendurei outras tantas na blusa vermelha. Calcei as botas e foi só esperar o Giba chegar com a viola e contar seus causos antes do bingo e no meio de muita prosa.
As Tradições Juninas... Um pouco de história...
Então, vamos lá. 13 de junho, dia de Santo Antônio. 24 é São João e 29 é dia de São Pedro. O primeiro era português, o segundo era primo de Maria e o terceiro, amigo de Jesus. Santo Antônio é casamenteiro. São João, festeiro e São Pedro, protetor dos lares. Ou, dizendo de outra forma (li em algum lugar), o primeiro corresponde a Ogum, o segundo à Xangô e para o terceiro, Exu. O que Ogum, Xangô e Exu tem a ver com Portugal, Maria, Jesus eu ainda não sei.
Sei que estes festejos, de caráter cristão, chegaram ao Brasil a partir da colonização. É que em 1500, lá na terrinha, as festas de São João eram o centro das comemorações juninas. Não é que - nesta terra aqui em que já dizia tão famosa carta que se plantando, tudo dá - as coisas de lá, juntaram-se com as tradições indígenas? Bingo! As rezas cristãs e os rituais de abundância, de fertilidade, de estreitamento dos laços de parentescos (o que combina bem com Santo Antônio). Duas vezes bingo! E não é que o fogo do São João coincidia com o fogo que limpava as matas, fertilizava os solos e afastava os espíritos malígnos? Viva! Três vezes bingo! É, pois é, não é a toa que se trata de festa tão popular.
Diz a história que Isabel prometeu sinalizar, para Nossa Senhora, o nascimento de seu filho João Batista. E faria isso ascendendo uma fogueira para ser vista ao longe. Um fogueirão, eu diria. Já as bombinhas de São João, é uma metáfora. Contam que Zacarias ficou tão alegre com a notícia de que seria pai que até perdeu a voz. No dia que seu filho nasceu, perguntaram-lhe como ele se chamaria e ele, num grande esforço, respondeu "João", e foi uma barulheira das grandes, com muitos vivas de todos os lados. Daí as bombinhas.
Ok, ok, mas e o compadrio? Opa! Esta é fácil. É que até 1950, 70% da população brasileira vivia nos campos. Éramos, de fato, um país rural e vivíamos em grupos familiares (muito além de pai, mãe e irmãos, a parentada toda: tios, primos, sobrinhos, netos, sobrinho-netos e sei lá mais quantas outras combinações, o primo do primo do primo etc e tal). Então o compadrio servia para integrar outras pessoas à família, estreitando os laços entre vizinhos, patrões e empregados, até mesmo do escravo com o senhorio. Um batismo aqui, uma fogueira acolá e compadres e comadres iam se ajeitando. Bonito era ser compadre de fogueira. Nas festas de São João, dois deles pulavam as brasas, em sentido cruzado e de mãos dadas. São aqueles irmãos que a gente ganha em vida, os amigos pra valer. Dizem que os balões de São João serviam para enviar recado ao santo. Já a quadrilha apareceu só depois, meados do século XX e tem origem francesa. Bingo de novo, com a dança de pares e os casamentos caipiras (ou matutos).