Churrasquinho grego. A modernidade

Conversamos aqui em nossa varanda, mais precisamente no dia quinze de junho do ano passado, sobre uma das marcas registradas do ser-tão paulistano: o falem mal mas falem de mim churrasquinho grego. Encerramos com um texto especial e bem humorado do dramaturgo Mario Bortolotto.
Local de atendimento do tradicional churrasquinho grego

Dizem uns que a carne é de terceira, que o molho não é recomendável, que tem muita gordura, que fica em contato direto com poeira, fumaça de carros e outras poluições, que o pãozinho é amanhecido, que o vinagrete não tem tempero. Do outro lado tem os que dizem ser o mais apetitoso dos pitéus, com sabor e temperos insuperáveis, um produto da mais alta gastronomia. O suco grátis é outro ítem de discórdia quanto à sua composição. O Giba, o da Viola, conhecedor e apreciador da iguaria, faz um bom tempo decretou: “Aquilo nunca que é suco, não passa de uma água torneiral levemente adoçada e aromatizada artificialmente”. Bandeira branca na discussão é a aceitação de todos que o mau humor dos velhos churrasqueiro não tem limites. Só faz a tradicional pergunta “vai vinagrete?”, não dá nenhuma informação quanto à origem dos ingredientes e em uma insistência maior dá uma “afiada” na faca e olha de lado. O bom entendedor sabe que não precisa nem de meia palavra. Uma nova geração de churrasqueiros está surgindo com jovens que sorriem e estão abertos ao marketing. Junto ao Mercado da Lapa tem um que “apresenta o produto” e finaliza “já estive na Ana Maria Braga e servi até para o Louro José”. A conquista de novos clientes neste mercado tão disputado, está mudando por completo a forma de atendimento do tradicional “mata fome”. Quiosques especiais, com jovens funcionários uniformizados, sorridentes, equipamentos brilhantes e – incrivel – caixa. Antes faziamos o pedido, ouviamos o tradicional “vai vinagrete?“, tomavamos o suco – com direito a repetição - e só depois o pagamento direto ao churrasqueiro. Agora tem o cerimonial de passar antes pelo caixa e ouvir as opções “carne de boi ou de frango? com ou sem vinagrete?, com ou sem suco?’. Adeus suco grátis, agora tem que ser pago. O segundo atendente recebe o ticket e faz o pedido ao churrasqueiro. Um senhor ao lado (pareceu-me reconhecer um velho churrasqueiro) observando tudo: “isso prá mim é coisa de americano, é a tal de globalização, estão trazendo desemprego aos mais velhos”.

É uma boa notícia para o primeiro impressionista Joca, que pode agora mudar de opinião, não precisar mais colocar em risco a medalha de ouro nos cem metros do jamaicano. Afinal sair em disparada no meio da multidão procurando alivio intestinal não é nada fácil.

Tenho cá com os meus botões que esta nova empreitada foi feita para atingir um público do qual a nossa Editora Fernanda, a Lenda faz parte. Nunca ousaram a experiência motivados por puro preconceito. O Rubem Alves diz que “o escritor é um cozinheiro que prepara uma refeição de palavras para o prazer dos leitores”. Imagino aqui o texto que será publicado pela escritora Fernanda, a Lenda relatando a sua primeira experiência e seremos – mais uma vez – presenteados literalmente com sensações gustativas, olfativas e visuais. Até a Bê, de Beleza Bela em São José do Rio Preto, a Iara nas Minas e a Solll em Brasília sentirão o aroma de suas palavras.
De minha parte estou me filiando à Associação de Preservação dos Velhos e Bons Churrasquinhos Gregos. Nada contra modernidades mas a tradição e a cultura popular são mais fortes. Sentirei a falta do combativo Joca Ramiro.
Estou sabendo que pelos lados da Avenida São João tem um churrasquinho de calabreza. Novidades não faltam.

Ah!, como foi a experiência? estava bom mas faltou o suco, que não acompanha.
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