Houve um tempo em que as mulheres, quando iam a um estádio de futebol pela primeira vez ao verem os vinte e dois jogadores perguntavam “ quem é a bola?”. Tempos em que o arbitro da porfia se vestia de preto e a pergunta “porque o padre fica correndo sozinho?”. As mesmas perguntas feitas quando do advento da transmissão pela televisão.
Piadas machistas?. Não se ouvem mais, menos pelo politicamente correto e mais pelo conhecimento das mulheres em relação ao futebol e principalmente à pratica dentro das quatro linhas do gramado. As “marias chuteiras” ainda existem mas tem que “competir” com meninas interessadas em praticar e torcer além de esbanjar conhecimentos de regras e táticas do esporte rei. As arquibancadas estão mais bonitas, as antigas e ainda existentes mesas redondas, ainda dominadas por homens, estão sendo “atacadas” por mulheres. A Milene, a Rainha das Embaixadinhas, mãe do Ronald , filho do Ronaldo, o Fenômeno, dá show de bola junto a mais duas ou três meninas em dessas mesas. Para quem está acostumado a assistir às mesas masculinas ver as meninas é o chamado “colírio nos olhos” e um belo alívio para os ouvidos.
A nossa Editora Chefe Fernanda, a Lenda, Escritora e agora Doutora é uma torcedora "bambista" com conhecimentos práticos nas arquibancadas do Morumbi e nos gramados. Esporte que dividia com o basquete e obrigada a interromper por uma contusão no joelho. Perdemos a Magic Fernanda no basquete e ganhamos na literatura.
No Bar do Seu João (aqui) (e aqui) a televisão mostrava Brasil e Estados Unidos em disputa de vaga para a semi-final do Campeonato Mundial Feminino. Domingo a freqüência é predominante masculina, apenas a Silvia passou para buscar o Luíz para o almoço, e o primeiro tempo não desperta muita atenção com o Brasil perdendo de um a zero. Pênalti a favor do Brasil, as conversas param, o velho e bom torcedor masculino volta com tudo O Judeu analisa que a jogadora brasileira que vai cobrar está muito longe da bola, a goleira americana defende e os primeiros “xingamentos” à bela arqueira americana e ao péssimo chute da brasileira. A juíza volta a cobrança alegando que a goalkeeper americana havia avançado antes da cobrança e desta vez é a Marta que bate e marca. Reprimidos e baixos gritos de comemoração. O empate no tempo normal leva à prorrogação com a Marta marcando logo no início e o bar inteiro com toda a atenção, inclusive o Seu João, que só torce para o Maritimo da Ilha da Madeira.
O desconhecimento da seleção é total, apenas Marta, cinco vezes a melhor do mundo, é conhecida e ai entram os conhecimentos do Niltão a lembrar da Cristiane e da veterana Formiga, que já disputou quatro mundiais. O Flavinho, sociólogo e filósofo balconistico, observa que naquele momento não tem nenhuma mulher no bar e apenas empedernidos machões assistindo e discutindo sobre futebol feminino.
Duas vizinhas, acostumadas ao burburinho do futebol masculino, observando da calçada, comentam que verdadeiramente é sinal dos tempos e sorriem com uma indisfarçada satisfação. A bela Hope Solo defende um pênalti, o Brasil é eliminado, a tristeza não é dissimulada, mais uma cerveja, o Seu João volta à fazer a calabresa na chapa e o Marquinhos, o Assessor Geral do bar fica em silencio. Já assisti este filme várias vezes, com outros atores e outra direção.
As meninas que disputaram o jogo: Andréia, Érika, Aline, Daiane, Fabiana, Ester, Formiga, depois Renata Costa, Rosana, depois Francielle, Marine, Marta e Cristiane.
Parabéns Meninas do Brasil