KÁTYA TEIXEIRA: ACALANTOS PARA MOVER A ESPERANÇA

 

A Live será no próximo dia 19/03/2021, às 21 horas, no canal do youtube da artista –

http://youtube.com/katyateixeirabr, projeto viabilizado pelo  Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura e Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Outros cinco shows, ao vivo e online, estão programados, restando detalhes quando a datas e horários corretos, que serão divulgados nas redes sociais.

O show foi inspirado no “Ciclo Arrullos-Churrinche”, encontro virtual ocorrido na Patagônia, sul da Argentina, do qual Kátya participou. No repertório, canções inéditas como “No Arco da Madrugada! (Consuelo de Paula e Katya), “Dorme Meu Amor” (Kátya e João Evangelista Rodrigues), peças do cancioneiro tradicional luso-brasileiro, como “Senhora Santana”, “Dorme Meu Menino” e “Cantigas de Embalar” (Zeca Afonso), musicas de Luiz Perequê, Luiz Vieira, Jean Garfunkel, Renato Consorte, Rosinha de Valença, coroando com “Toke na Mitã”, de Anabel Andrés e Jera Guarani, composta e executada no idioma musical por excelência, o guarani, falado no Paraguai.



Contará com participações muito especiais do Barbatuque  André Vênegas (que também assina a direção artística junto com Kátya), tocando vários instrumentos, além de sua especialidade - percussão vocal e corporal – e Nani Braun, contando “causos” e recitando poesias.



A live Acalantos foi especialmente montada para reproduzir  o ambiente alegre, descontraído, informal e aconchegante, típico  dos shows da cantora, nos quais temos a impressão de estar no terreiro ou na sala de casa. Ao final, a prosa, o bate-papo, onde ela esclarece para quem não conhece, a natureza de seu trabalho e satisfaz curiosidades a respeito de seu processo criativo.

 

ARTE NÃO É SOMENTE ENTRETENIMENTO


Imagine um cenário que pode ser qualquer lugar. Um ambiente onírico, onde acordes, versos, frases corriqueiras, entremeadas por músicas, tudo se mistura. Estamos tão longe e tão perto, sentindo a pulsação  do lugar. Estamos em casa, porém, conectados com os mais distantes pontos do globo terrestre. A platéia é o mundo, potencialmente falando. Eles conversam, cantam, riem e estamos juntos, nesse ambiente que pode ser qualquer lugar, inclusive nossas casas ou a tela de nossos aparelhos (celular ou computador), que aquise tornam janelas para outros mundos! O que fazem, o que falam? De um passado distante, de uma humanidade de outrora ou nos estão falando de um iminente futuro, que ainda desconhecemos? A Arte nos proporciona isso, a reflexão, que jamais nos será negada.

No ambiente cuidadosamente montado, os instrumentos, todos peças artesanais únicas (flautas indígenas, apitos mapuche, cajacoplera argentina, berimbau de boca, kalimbas africanas, violas de cocho e de cabaça, charango andino, rabecas, cuatro venezuelano, violões requinto e tercino, guitarra transpuesta, entre outros, confeccionados em várias partes do Brasil e do mundo), estão dispostos como num museu. Porém, nas mãos dos artistas ganham vida e dialogam entre e além de si. À medida em que o espetáculo vai acontecendo, nós, cá do outro lado da tela, nos sentimos integrantes, participantes, integrados. Os artistas nos transmitem não apenas a técnica refinada de quem conhece o seu oficio, mas nos ajudam a reinventar os afetos, neste momento único da História da humanidade. Arte não é apenas entretenimento.

 

  





MESTRES DA TRADIÇÃO


Kátya Teixeira é uma legitima herdeira das tradições luso-africanas-indigena-brasileira e estamos certos que os seus mestres, de hoje e os de outrora, estão muito orgulhosos da pupila que criaram. A força de seu canto, carregada de emoção, brota do corpo e da alma, dando voz aos elementos mestiços da qual é formada. Cantora, pesquisadora, compositora e instrumentista, ela traz consigo  um conhecimento puro da arte e cultura populares que fazem dela uma autoridade no assunto: filha do pesquisador Chico Teixeira, sobrinha do maestro Vidal França, afilhada musical de João Bá, discípula do genial Dércio Marques. Quem ou do que precisa mais?

Vejamos Dércio sobre quem Leticia de Queiroz Bertelli escreveu uma dissertação de mestrado (Dércio Marques: da Latinoamérica ao Brasil de Dentro), sob orientação do professor Ivan Vilela: ela não é apenas uma fiel seguidora da técnica musical do mineiro descendente do povo guarani; tornou-se continuadora de seu trabalho depois da partida  precoce do Eterno Menino. O premiado Projeto Dandô – Circulo de Musica Dércio Marques, do qual ela é idealizadora e coordenadora nacional, é uma forma reveladora da atualidade da musica e da arte popular, de sua força inequívoca, moldada na tradição, que não é estática como muitos pensam: tradição é movimento! Durante toda sua vida o andarilho Dércio andou pelo mundo,  Américas, Portugal, Galícia. Em cada parada, assimilava gêneros, recriava laços, pois era um natural agregador de interesses e pessoas. Estabeleceu pontes entre a paisagem pampeana de Atahualpa Yupanqui e o sertão catingueiro de Elomar Figueira de Melo: a intuitiva Kátya Teixeira não apenas segue seu rastro, mas continua a abrir ou reabrir caminhos: seu Projeto Dandô – Círculo Musical Dércio Marques  - avança pela América Latina, chega a Peninsula Ibérica. Ganha mundo!



Kátya é herdeira de uma antiga linhagem,  desde os antigos menestréis medievais chegando aos cantores e cantoras de protesto ou militantes, artistas que cantam as agruras, os amores, as alegrias do povo. A filha de Chico Teixeira e sobrinha de Vidal França assume o leme nos tempos atuais e faz jus às estirpes dos andarilhos litero-musicais  que vieram antes dela percorrendo os caminhos dos profundos sertões do mundo:  Peter Seeger, Joan Baez, Woody Guthrie (EUA); Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Eduardo Falú (Argentina);  Amparo Ochoa (México);  Violeta Parra (Chile); Zeca Afonso, Zé Mário Branco (Portugal); Jordi Saval (Catalunya), dentre centenas de outros e outras, a maioria anônimos trabalhadores dos campos, lavadeiras, vaqueiros, tecelãs.

 


O MUNDO JÁ NÃO É O MESMO. E NÓS?


O mundo sob a pandemia do CoronaVirús ainda nos é desconhecido. Nos próximos anos muito se falará sobre o fenômeno, que não é indiferente a ninguém, por mais dificuldade que se encontre na compreensão e significado de um “mal invisível”. O que é esse mal que só se concretiza quando as pessoas se agrupam? Como compreender que  devemos banir a mais comum e banal forma de comunicação entre pessoas?  Como aceitar que abraços e demais demonstrações de afeto e calor humano, de uma hora para outra se transformaram em perigos letais?

Ao longo dos milênios, a música sempre foi um fator de aproximação entre pessoas. Por mais que se desconheça o idioma, musicalmente todos são capazes de se entender quando se encontram. Desde as caravanas de comerciantes nas frias noites dos desertos do Oriente Médio, quando se aproximavam em busca de proteção mútua, até o improviso do jazz ou a música minimalista da segunda metade do século XX até os dias atuais, nos pubs, nos guetos, nas praças, nas feiras e mercados, a aceitação do “outro” pode ser encontrada “musicalmente falando e tocando”. A mesma aceitação do outro que se dava nas antigas noites interioranas de minha infância, quando  violeiros e cantadores eram sempre aceitos nas rodas de violeiros. A chave para a comunhão  era a musica, assim as pessoas se aproximavam e se entendiam. O espaço físico comum era o palco onde seres humanos, desconhecidos entre si, poderiam se juntar. O multiinstrumentista Carlinhos Antunes se orgulha de se comunicar com qualquer músico, de qualquer parte da Terra “falando” a linguagem musical dos instrumentos.

Com a pandemia, a aproximação, a convergência de pessoas, o contato, tornou-se maldição; neutralizando, por ora, a mais banal das experiências humanas, o grupamento, nascedouro das sociedades que com o tempo se tornaram complexas.

Existe saída? Sim, existe saída enquanto existir arte. Das coisas que caracterizam um artistas,citemos a criação. As lives oferecem caminho para amenizar o cruel e insano isolamento social, necessário para preservar a vida das pessoas. Shows, palestras, apresentações teatrais, tudo pode ser possível através da live!  Assim a vida vai encontrando saídas nos momentos de crise.

E a carcaça do isolamento foi rompida. É uma guerra de várias frentes, necessitando da colaboração de todos. O espetáculo artístico, mesmo de forma incompleta, reconectam os seres humanos em sua essência básica: a comunicação.

 

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