CONSUELO DE PAULA NO SHOW MARYÁKORÉ, ‘RÚSTICO’ E ERUDITO

Para quem perdeu Maryákoré no dia nos dias 21 e 27 de março, o boa noticia é que o show continua.

Em Abril, nos dias 03(sábado), 10 (sábado) , 14 (quarta-feira)  e 18  (domingo), a mineira de Pratápolis nos dá de presente MARIÀKORÉ DUO, espetáculo para nos enternecer e encher de esperança, gravado na linda paisagem da Serra da Mantiqueira.  (Necessário se inscrever no canal do youtube, da cantora).


MARIÀKORÉ DUO contará com a própria Consuelo de Paula (violão e caixa do Divino) e Ana Rodrigues (piano,  bombo leguero, caxixis). É um trabalho feito a partir de seu CD MARYÁKORÉ, o sétimo de sua carreira, lançado em 2019.


Atenção aos horários:



Nós, do ser-tão paulistano, poderíamos começar esse lembrete com as mesmas palavras do texto escrito por ocasião do lançamento do disco, menos de dois anos atrás: “...provavelmente a característica mais marcante da mineira radicada em São Paulo, Consuelo de Paula, seja nunca repetir uma temática...”  http://www.sertaopaulistano.com.br/2019/10/maryakore-o-disco-rustico-de-consuelo.html.

 Quem acompanha seu trabalho, sabe: ela não atende a demandas do “mercado” ou da moda, seu compromisso é com a Arte, com seu público e consigo mesma. Na ocasião que escrevemos o texto acima, achamos conveniente chamar  seu “disco rústico”, pois ao mesmo tempo em que era um disco dedicado ao amor e à beleza, as canções eram ao mesmo tempo chamamentos à luta que naquele momento se desenrolava num país convulso por constantes tensões, que deveriam se refletir no interior de cada um. A artista sensível canalizou os  jorros de ansiedade e os cantos se alternavam: ora o amor, ora a guerra.

Quem ouve o disco percebe o violão tornado instrumento de percussão, tambor de guerra; sua voz doce e límpida se metaforseando na guerreira índia, da negra. No disco e no  show de lançamento (no SESC Belezinho) a percussão de Carlinhos Ferreira pontuava e servia de guia nas canções que se adentravam  nas  matas, nos terreiros,  ruas,  montanhas,  trilhas e pelos céus  de um Brasil tornado palco de surda (nem tão surda!) batalha, um Brasil utando para preservar a si mesmo – suas matas, suas águas, suas tradições, sua alma.

 


Não seria  fora de contexto se Consuelo se “apenas” nos mostrasse nesse show, nessa live, o que foi e o que é Maryákoré – pois a luta proposta então, continua.

Mas ela – como não podia deixar de ser -  surpreende  e nos obriga a colar os olhos na tela do celular ou do computador para apreciar as novas invenções criativas. Ao lado da pianista Ana Rodrigues, o “disco rústico” se transforma em disco erudito e aqui eu me arrisco a dizer que o velho Heitor Villa Lobos, onde quer que esteja, abriu um vasto sorriso, pois Consuelo, realiza aqui o que Villa propôs a vida inteira! Seu espírito irrequieto continua mergulhando e vasculhando o interior do Brasil, resgatando nossa alma ancestral e a trazendo para o centro do palco. Ou melhor, para o centro do mundo, fazendo a alegria de Darci Ribeiro, mineiro como Consuelo, que dizia sem papas na língua que seríamos “a Nova Roma!”  Só faltou Consuelo cantar o “Caicó”, mas aí ficaria óbvio demais!

Convém lembrar que no texto anterior foi alertado que Maryákoré se tratava de uma “obra aberta, que se apresenta como uma janela invadida pelo frescor vigoroso dos ventos brasileiros”. Continua uma obra aberta: promessa feita e cumprida! Que nos deixemos provocar por Maryákoré!

 

Enquanto o isolamento e distanciamento social se faz necessário, vamos nos dar as mãos, mesmo virtualmente, e não vamos nos dispersar, como aconselha  outro mineiro:

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

  (Mãos Dadas, trecho, Carlos Drummond de Andrade)

 Estamos vivos e lutando, capazes de descortinar belezas mesmo num cenário sombrio. Estamos presos à vida e sempre será possível reverter  situações desfavoráveis. A Arte é um poderoso instrumento, nosso combustível que nos fará superar um dos momentos mais difíceis da história da humanidade.

E viva a lei Aldir Blanc

 

O projeto foi viabilizado por:

Ministério do Turismo

Secretaria Especial da Cultura e Governo do Estado de São Paulo

                                                                                     Secretaria da Cultura e Economia Criativa. 

 

                 

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